5 de abr. de 2013

June 15



Capítulo 28.


(COLOCAR PARA CARREGAR: http://www.youtube.com/watch?v=Ub52NjNDQwg) 

Acordei incrivelmente decidida, as coisas podem se tornar mais fáceis quando você percebe que pode estar errada. Eu era culpada pelo que estava acontecendo, devia ter deixado claro desde o começo que estava me envolvendo, assim
 Thur não teria brincado inconscientemente com os meus sentimentos. Eu sabia que teriam milhões de questões a serem discutidas e que não era apenas dizendo um “eu sou louca por você” que conquistaria o seu perdão, mas havia uma pitada de esperança em meu coração, alguma coisa no fundo da minha alma dizia que as coisas ficariam bem, assim como eu vinha sentindo o tempo inteiro no trem. 

Encontrei com
 Mel e Raquel na cozinha, as duas estavam prontas para ir às respectivas aulas. Isso me lembrou que eu tinha de agilizar alguns papéis e tentar uma vaga em uma faculdade. Assim que apareci na cozinha, já pronta para o ‘confronto’, Mel me olhou espantada e Raquel acenou freneticamente, me oferecendo torradas recém-preparadas, aceitei e agradeci, depois me lembrei de que ela não tinha dormido em casa. 

- Por que você já levantou a essa hora? –
 Mel perguntou enquanto me observava preparar leite com café. 
- Vou falar com o
 Thur. – respondi nem acreditando que estava realmente indo fazer isso. Mal me calei e Raquel prendeu a respiração. Até ela sabia da gravidade que seria essa conversa? 
- Ah meu Deus. –
 Mel continuou, aparentemente mais nervosa do que eu. – Você tem mesmo certeza? Eu acho que essa não é uma boa ideia, Lu. 
- Se
 Lu acha que deve enfrentar Arthur, essa é a hora. – Raquel deu a sua primeira manifestação do dia e eu a aplaudi, Mel fez careta. Claro que não deixei de rir do seu inglês, que é muito engraçado. 
- Gostei de você, xará... – brinquei e Raquel não entendeu,
 Mel apenas riu baixinho, a menina não devia saber que eu usava aquele mesmo nome quando era prostituta, apesar de eu crer que a escrita é diferente. 
- De qualquer forma, depois não diz que eu não avisei. Vamos, Quel. –
 Mel disse depois de tomar o último gole de seu leite. Raquel enfiou uma torrada inteira na boca e me deu um tapinha no ombro. Desejei boa aula às duas, Mel agradeceu e me desejou sorte; Raquel estava com a boca cheia, então apenas emitiu algum som. Eu sabia que precisaria de sorte. 

Terminei de tomar café e lavei as sobras que as duas deixaram, juntando com as minhas. Estava tentando, de qualquer maneira, adiar a hora mais esquisita do dia. E esperada. Não sentia apenas medo de enfrentá-lo, sentia também falta, muita falta, mas não fazia ideia de como seria esse reencontro, eu não sabia como me sentiria. E aquilo realmente assustava e me fazia querer depositar todo o café da manhã em um vaso sanitário por via oral. Assim que terminei de lavar a louça, percebi que não havia nada mais a ser usado como desculpa para prolongar a minha ansiedade. Peguei a minha bolsa, que já estava em cima do sofá, e dei uma última checada no cabelo, me olhando no novo espelho que havia sido colocado no fim do corredor por Raquel, segundo informações de
 Mel. Tranquei o apartamento e desci as escadas com cuidado, as minhas pernas tremiam involuntariamente, assim como as minhas mãos, me deixando até envergonhada, porque quando passava pelo andar de baixo, um senhor me olhou com uma pena que me fez até sentir pena de mim mesma. 

Fiz uma caminhada relativamente longa até o ponto de táxi mais próximo do meu prédio, era muito estranho fazer aquele caminho novamente. Eu já estava me acostumando com Bolton, depois que voltei para Londres, havia momentos em que me assustava ao pensar que não estava mais lá. Na minha cabeça doentia, só conseguiria voltar daqui anos e mais anos, não em cinco meses e mais alguns dias. Peguei um táxi e dei as instruções, ele brincou, dizendo que eu era bonita demais para estar tão nervosa. É, eu devia estar pálida e com uma expressão de desespero, porque era assim mesmo que me sentia. Uma música começava a tocar na estação de rádio e o taxista cantarolava baixinho, era do McFly. “I Wanna Hold You”, sim, aquela que
 Thur cantou apontando tal frase para mim no show do Rio de Janeiro. Senti o estômago revirar e todos os fiozinhos de cabelo se arrepiarem. Ouvir a voz de Thur a essa altura do campeonato era algo surreal. O Thur era surreal. Acho que eu estava com mais medo de enfrentá-lo do que tive ao enfrentar meus pais maquiavélicos. Olhei o caminho que fazíamos e ficava cada vez mais próximo do hotel em que Thur morava. Comecei a lembrar da Mel me perguntando, completamente preocupada, se eu tinha certeza de que deveria vê-lo. Quanto mais eu pensava, mais dor de barriga me dava. Quanto mais eu tentava pensar que as coisas poderiam nem ser tão estranhas, mais eu imaginava Thur me escorraçando para longe do hotel. Ora, o que mais poderia esperar? Um abraço apertado? Ou na hipótese mais distante possível, um beijo? Eu estava com medo, muito, muito medo. A música no rádio ia acabando e, se eu já quase infartei com a voz dele em uma canção, imagina ouvir a voz dele e olhar em seus olhos ao mesmo tempo? Já conseguia enxergar a fachada do luxuoso hotel. 

O taxista encostou lentamente na calçada, para que eu pudesse descer. A essa hora, eu já não tinha mais unhas. Fui acordada do pequeno transe com ele falando o valor da corrida e quase gritei de susto, sem contar que fiquei hiper constrangida pelo fato de não estar encontrando a minha carteira no buraco negro que a minha bolsa se tornou. As minhas mãos estavam suadas e congeladas, entreguei a nota para o taxista e ele riu, vendo que a cédula se tremia devido ao meu nervosismo. Abri a porta do carro notando que o meu suor havia ficado na maçaneta. Desci lentamente e nem me lembrei de dizer um ‘obrigada’ ao motorista de táxi, coisa que eu sempre fazia. Antes de pensar em atravessar a rua, respirei fundo e olhei para o hotel, que estava do outro lado. Foi nessa hora que eu queria mesmo me torturar por gostar tanto de
 Thur. Assim que avistei a entrada do hotel, o vi na calçada, dando um selinho em uma garota loira e baixa, que parecia ser ainda mais nova do que eu. Em seguida, ela entrou em um táxi, tendo a porta aberta e fechada pelo Aguiar, ambos rindo como retardados, o que me corroeu ainda mais. Senti-me uma idiota de ter me preparado tanto e ter passado uma noite em claro pensando no que dizer a ele para chegar a hora e vê-lo com outra. 

Ok, eu sei que ele nunca foi minha propriedade, mas me senti infinitamente tola por ter me martirizado tanto. Por mais que o meu coração batesse acelerado, a ponto de explodir por dois motivos completamente distintos, da mesma forma que o nó em minha garganta – o primeiro motivo foi pela raiva, pelo ciúme que senti em vê-lo com aquela garota e, o segundo, foi apenas pelo fato de revê-lo. Eu odeio como esse idiota me faz sentir.–, não pensei duas vezes e entrei no mesmo táxi novamente, é até irônico dizer isso, mas pelo menos uma coisa havia dado certo naquele dia. Pelo menos o trânsito estava tão ruim a ponto de o taxista não ter conseguido sair do lugar. Ele me olhou preocupado e perguntou se eu precisava de alguma coisa. Respondi que sim: sumir dali. Enquanto encarávamos um engarrafamento, evitei olhar novamente para a frente do hotel e queria me auto flagelar, porque enquanto a minha cabeça odiava
 Thur, o coração pedia para que eu o olhasse pelo menos para matar um pouco da falta que sentia dele. Eu odeio ter um coração, ODEIO. Ainda bem que dessa vez a minha razão conseguiu se manter e evitei olhá-lo, até porque acredito que não tenha ficado de bobeira na frente daquele hotel, sendo que ali passa uma das avenidas mais movimentadas de Londres. 

Eu também tentava segurar o choro que queria aparecer, engolia seco e não deixava que aquele nó na garganta se instalasse. Tinha que ser mais forte do que isso, mas me sentia frustrada, muito frustrada.
 Arthur sempre consegue me surpreender, juro que acreditei por horas que teríamos essa conversa hoje, mas não, ele sempre faz algo contrário. Eu sei que ele nem imaginava que eu estava indo até lá, aliás, nem deve saber que voltei. Mas DROGA! Por que sempre tudo sai diferente do planejado? Só porque eu estava com as coisas a dizer na ponta da língua! Pelo menos eu achava que sim. Com certeza estava enganada, porque se estava tão decidida como achava, por que não fui até lá mesmo assim? Mesmo vendo ele com uma loira aguada menor do que eu? Eu sempre tenho que quebrar a cara, sempre. Se tivesse dado ouvidos à Mel desde o começo, com certeza não teria chegado a esse estado em que o meu amor próprio praticamente sumiu. Pedi para o taxista me deixar em frente ao London Eye, era tudo o que eu precisava. Ali pelo menos o meu medo de altura me distrairia. Desci do carro e observei, ainda de longe, a roda gigante mais gigante que já vi. 

Havia pouquíssimas pessoas, já que se tratava de uma manhã de um dia de semana. Peguei uns trocados em minha bolsa para já pagar o tanto certo, detesto esperar troco, ainda mais do jeito que eu estava naquele momento: completamente sem paciência, querendo explodir. Entrei em uma cabine sozinha, de tão pouco que era o movimento. Cruzei os braços e encostei a cabeça no vidro, observando a cabine ficar cada vez mais alta. Sentei com as pernas esparramadas e esticadas, comecei a pensar no filho que havia perdido. Ainda pensava muito nisso, por mais que não parecesse para quem olhava superficialmente. A própria Carol me disse várias vezes que não sabia de onde eu tirava forças para ter um comportamento normal poucos dias depois do acontecido. Mal sabia ela o tanto que eu estava sofrendo. Esse é o meu jeito de sofrer. Ao invés de pedir ajuda, fico com o problema inteiramente para mim. Fui criada assim, os meus pais não me davam o direito de sofrer. Era um bicho de sete cabeças chorar na frente dos outros. Eu queria mesmo ser tão durona e fria como muitas pessoas já disseram que sou e até admiram isso em mim. Mas não é assim. Nenhuma delas sabe que enquanto eu estou sorrindo, meu coração está despedaçando e estou me corroendo. Erguer a cabeça nem sempre é sinal de segurança. Ser fria e durona era tudo o que eu precisava em momentos como estes. E agora estou aqui, sentada em uma cabine de uma roda gigante, observando uma cidade que não para, mas sentindo como se o meu mundo tivesse parado de girar. Desde quando um homem tinha tanto controle sobre o que me rodeia?
 
Paguei para continuar ali várias e várias vezes, o homem que dava os tickets me olhava com muita, muita pena. Ele devia estar pensando que eu era algum tipo de esquizofrênica. Mas de alguma forma, eu começava a me sentir melhor. Como se estivesse acima de tudo e de todos, como se nada me afetasse. Quanto mais alto estava, mais segurança sentia. Segurança falsa, já que quando saísse dali tudo voltaria ao curso normal. Eu tinha perdido mais um filho e, de brinde, o pai dele.
 

Finalmente decidi sair da roda gigante, já devia ser a hora do almoço. Eu nem ao menos sentia fome e queria conseguir parar de pensar em
 Thur. Caminhei por vários quarteirões até pegar o táxi e voltar para casa. Mel não teria expediente nesta tarde e eu me aproveitaria disso para usar o seu ombro amigo. 
Entrei no apartamento bufando e batendo a porta, ainda não conseguia acreditar que tanta preparação não serviu para nada.
 Mel apareceu, vindo da cozinha, e me olhou espantada. Dei um breve ‘olá’ e me joguei no sofá. O cheiro de comida até parecia animar o meu estômago, mas eu sabia que se tentasse comer, não conseguiria. 

- O que aconteceu? –
 Mel perguntou sentando ao meu lado. 
- Adivinha... – bufei.
 
- Não conseguiu falar com o
 Thur ou ele te tratou como um cachorro... – acertou na mosca, na primeira opção. 
- A primeira opção. – resmunguei e cruzei os braços.
 
- Ah, tô vendo que vamos ter que contar uma com a outra hoje. – disse desanimada e soltando um riso abafado.
 
- Como assim? – estranhei.
 
-
 Mica está saindo com a Holy, aquela vagabunda que estuda comigo. – falou de uma vez e eu a olhei subitamente, prendendo a respiração. Holy Peterson estuda com Mel desde os tempos de colegial e, por ironia do destino, optou pelo mesmo curso. As duas nunca se deram bem, mas agora parecia que as coisas estavam começando a dar certo. Só parecia. 
- E isso te incomoda? – perguntei querendo rir e levei um tapa no braço. – Outch! Sua louca! – massageei e continuei rindo,
 Mel estava mesmo com ciúmes. 
- Ahhh, não é por causa do
 Mica... É que essa menina tem o talento de pegar caras que eu descarto... – blefou. 
- Ah, para
 Melanie. Se ela tivesse com o Chay, tenho certeza de que você não estaria assim. – dei de ombros e ela me bateu de novo. 
- Nunca mais repita uma coisa dessas... Eu odeio aquele monte de merda que é o
 Mica. E quer saber, vou mandar uma mensagem pra ele agora mesmo! Você tinha que ver a cara cínica dele encostado no carro, esperando aquela vadia! E ela como sempre uma #@$%, se mostrando pra faculdade inteira, porque estava com um retardadinho do McFly. Nossa, eu odeio, odeio, odeio o Mica. Quero que ele se dane! Junto com aquela siliconada! Grrrrr... – desembestou a falar e eu apenas a observei dizer palavra por palavra. Era óbvio o tanto que aquilo incomodava Melanie. Eu nunca a tinha visto agir dessa forma. Nem pelo Ryan, que é realmente um monte de merda. O mais engraçado era que ela esperava mesmo que eu acreditasse no que dizia. Não consegui controlar e comecei a rir novamente. Ela bateu o pé e levantou, voltando para a cozinha e me xingando de vários nomes. Por alguns segundos, como sempre, Mel conseguiu me distrair. Levantei e fui caminhando até a cozinha. Ela estava visivelmente irritada, mexendo em seu celular e, como havia dito, devia estar mandando uma mensagem para Mica. 
- Você está apaixonada, amiga, tente lidar com isso. – falei pegando uma maçã na fruteira e preparando os meus ouvidos para ser xingada.
 Mel desviou o olhar do celular e semicerrou os olhos, a acompanhei abrir a boca lentamente, sabia que dali viriam milhões de palavras obscenas. Mas, antes que ela pudesse dizer alguma palavra... 
-
 Ya estoy harta, Harry! HARTA! (Já estou farta, Harry! Farta!) – ouvimos Raquel gritar entrando no apartamento. Larguei a minha maçã na mesa e corremos para ver do que se tratava. Ela puxava os próprios cabelos e dizia um monte de coisas em sua língua. Nem Mel, nem Harry e nem eu conseguíamos entender. – Todo eso es una mierda! Tu eres una mierda! (Tudo isso é uma merda! Você é uma merda!) – Raquel apontava para Harry e ele olhava dela para nós duas, desesperado, procurando uma tradução. Apenas balancei a cabeça negativamente, como se dissesse para ele que não estava entendendo nada. 
- Fala em inglês, caramba! – Harry disse em alto e bom som,
 Mel e eu quase nos abraçamos assustadas. Era a primeira vez que o víamos irritado. Raquel se calou e creio que ficou tão assustada quanto nós duas. Mel e eu começamos a gargalhar. Aquela foi a discussão mais engraçada que já havíamos visto. Raquel deve ter chamado Harry de todos os palavrões existentes em sua terra natal. Desejei por longos minutos ser poliglota, para poder xingar Thur em todos os idiomas, sem que ele entendesse o que estava falando. Harry nos olhou, ainda irritado, e Raquel bufou, indo para o quarto e batendo a porta. 
- Minha santa mãe do céu, o que foi isso? – perguntei erguendo os braços e Harry passou a mão na cabeça, respirando fundo.
 
- Eu nunca vi a Raquel desse jeito, o que você aprontou, Harry? –
 Mel perguntou ficando ao lado dele e conduzindo-o até o sofá. 
- Eu não sei, ela é louca! – ele respondeu simplesmente, apoiando os cotovelos nos joelhos e balançando a cabeça.
 
- Para uma mulher agir assim, alguma coisa você fez, pode ter certeza! – falei sentando do outro lado, deixando Harry entre
 Mel e eu. Ele, então, me olhou bruscamente. 
- Só se foi por causa de uma garota que... Ah meu Deus... – ele parou de falar e deu um tapa na própria testa.
 
- Garota que... –
 Mel o estimulou a continuar falando. 
- Eu namorei um tempo e a Raquel achou umas fotos dela no meu armário...
 
- E essa ex namorada estuda na mesma faculdade que ela? – dei o palpite e ele assentiu.
 Mel prendeu a respiração. 
- Ela veio me abraçar bem na hora que a Raquel vinha saindo... E aí acho que foi por isso que ela ficou assim. – Harry disse e depois bufou.
 
- Ahhhhhhh, mas eu acho isso muito pouco! Ela deveria ter metido a mão na sua cara, seu cachorro sem vergonha! Você tinha prometido que ia buscá-la e depois fica abraçado com a ex? Vá à merda, Haz! Vou atrás da minha amiga, você não a merece! –
 Mel explodiu, comprando a briga e nós a observamos levantar e ir até o quarto de Raquel. A minha amiga não é muito de comprar briga, mas era óbvio que aquilo a fez lembrar o aborrecimento de ver Mica com outra, então ela acabou descontando em Harry. 
- Você entendeu? – Harry perguntou apontando para o corredor.
 
- Sim. – respondi simplesmente. – Ela tá aborrecida com o seu amigo. Aí você sabe, né? Vocês são todos parecidos e isso faz com que ela desconte no primeiro que aparecer.
 
- O
 Chay? O que ele fez? Acho que ele nem acordou ainda! 
- Dãããã... Não o
 Chay, o Mica! 
- Hein? Isso ainda dá ibope? – Harry perguntou espantado e eu assenti, sorrindo.
 
- Pelo jeito... Mas deixa pra lá, a
 Mel não consegue nem ouvir o nome dele direito... 
- Você acha que eu vou falar alguma coisa? Ele é louca, igual à Raquel, não me meto mais com nenhuma das duas... – disse em um tom desanimado e eu apoiei a cabeça em seu ombro.
 
- Ai, ai. Antes tivesse me apaixonado por você. – desabafei baixinho e Harry passou o braço pelo meu ombro. Ficamos olhando para a TV desligada.
 
- Digo o mesmo. Mas não, fui me apaixonar logo por uma maluca vinda lá de não sei aonde que quando quer brigar fala em espanhol e eu não entendo $#@% nenhuma. – reclamou e nós rimos.
 
- Que lindo, Haz.
 
- O que?
 
- Você disse que se apaixonou pela Raquel.
 
- É... Olha em que buraco eu fui me meter. – deu de ombros. – Agora já tô ferrado, mesmo.
 
- Nem tá. – levantei a cabeça e o encarei. – Corre atrás, ela também está apaixonada. Se não estivesse, não teria agido dessa forma ao te ver com a ex. Ferrada estou eu, meu amigo... – dei dois tapinhas em seu ombro e ele riu.
 
- Você gosta do
 Thur, né? – perguntou já sabendo a resposta e olhou para a minha mão, em seguida entrelaçou a sua na minha. 
- Preciso responder? – sorri fraco e ele negou, beijando a minha mão.
 
- Eu senti sua falta,
 Lu. Você não sabe a vontade que tive de cuidar de você, nesse tempo todo que sumiu grávida por aí. – desabafou. 
- Ouuunnn. – nos abraçamos e em seguida ele se desvencilhou, me olhando com uma expressão sapeca.
 
- E se o
 Thur estiver apaixonado, também? 
- Não, não, não. Ele esteve, eu acho. – dei de ombros.
 
- Por que
 esteve? – perguntou atordoado. 
- A
 Mel me mostrou a letra de uma música aí que ele escreveu. Acho que me odeia... 
- Claro que não. Aquela topeira não sabe o que é sentir ódio... Não se preocupe, se duvidar, ele nem sabe o significado dessa palavra! – brincou e nós rimos.
 
- Eu o vi hoje. – falei rapidamente e Harry arregalou os olhos.
 
- E aí? – perguntou visivelmente curioso.
 
- Só vi, não falei com ele...
 
- Por quê? Ele não morde! Relincha, mas não morde! – brincou mais uma vez. – Sério, agora... Por que vocês não se falaram?
 
- Eu tomei coragem pra conversar com ele... Mas quando cheguei à frente do hotel, o vi dando um selinho em uma garota e depois abrindo a porta do táxi para que ela entrasse. – respondi completamente desanimada, lembrando perfeitamente daquele momento. Harry franziu a testa, com certeza desconsertado, ele não sabia o que dizer.
 
- VAI EMBORA, HARRY. – Raquel ressurgiu e nós levamos um susto, visto que um silêncio estranho havia se instalado.
 
- Isso aí, some, Judd! –
 Mel apoiou e eu gesticulei para que ela se acalmasse e não se metesse na briga dos dois. 
- Acho melhor você ir, antes que o teto desabe na sua cabeça, Haz. – brinquei e ele concordou, levantando. Levantei em seguida e o abracei. Ele não teve coragem nem de acenar para as duas loucas, apenas as olhou por alguns segundos e me deu um beijo no rosto, deixando o apartamento. Fechei a porta e me virei para
 Mel e Raquel. 
- Vocês são loucas? A Raquel até tudo bem, porque a confusão foi com ela... Mas o que você tinha que dar uma de louca pra cima do Harry,
 Melanie? O seu problema é com o Mica. Eles são quase a mesma pessoa... Quase. – ironizei e ela bufou, fazendo careta. 
- Vou servir o almoço, quem quiser comer, me siga. – ignorou e foi para a cozinha. Raquel continuou ali, parada.
 
-
 Perdóname. (Desculpe-me.) – ela disse, ainda em seu idioma. 
- Raquel, eu não entendo a sua língua. – fui sincera e ela rolou os olhos, batendo na própria testa.
 
- Eu quis dizer ‘desculpe-me’, mas é que às vezes não processo a informação de estar em outro país. – falou envergonhada e eu sorri fraco.
 
- Não tem problema, deve ser complicado, mesmo. E também o que aconteceu é problema seu e do Harry. Só quero que você pondere. – falei em tom cordial e ela sorriu aliviada, assentindo. – Vamos almoçar? – convidei, mudando de assunto, e ela assentiu, me seguindo.
 

O almoço foi bastante silencioso. Raquel tinha vergonha de falar e ser repreendida – a essa hora ela devia me achar a própria megera – e
 Mel devia estar me odiando por, de certa forma, ficar do lado de Harry. E, claro, por perceber o que ela mais queria esconder de todos: sua paixonite por Mica. Apesar de todo esse clima estranho, uma coisa parecia me perturbar mais ainda: eu não conseguia parar de lembrar-me da cena que vi mais cedo. Queria mesmo desabafar com alguém, quase consegui com Harry, se não tivéssemos sido interrompidos por Mel e Raquel possessas. Assim que terminamos de almoçar, Raquel disse que lavaria a louça, ela deveria estar querendo evitar qualquer tipo de stress em mim e em Mel e também deveria estar realmente envergonhada pelo que aconteceu entre ela e Harry na nossa frente. Quer dizer, o que aconteceu com ela, já que Harry nem entendia o que ela falava, para se defender. Fui direto para a sala e abri um livro que havia comprado em Bolton e, desde que comprei – há dois meses –, não dei conta de começar a ler. 

Agora eu não tinha mais quarto, Raquel ocupara o que era meu e eu estava dormindo com
 Mel. Não ia mesmo pedir o meu quarto de volta, afinal quem sumiu por cinco meses fui eu, a pobre estrangeira não tem nada a ver com isso. E alguma coisa me dizia que nós nos daríamos bem, ela só me pareceu um pouco impulsiva, mas Mel também é, então não há nada de extraordinário nisso. 
Apesar de saber que não é recomendável ler de barriga cheia, ignorei e deitei no sofá, de barriga para cima e apoiei o livro no busto. Eu tinha que encontrar alguma forma de distração convincente, pelo menos para o resto do dia.
 

Li por mais ou menos uma hora, até Raquel vir e me oferecer um cigarro. Não costumo fumar sempre, mas se estou atordoada e alguém me oferece, não consigo recusar. Aceitei, fechei o livro e sentei, pedindo para que ela sentasse ao meu lado. Raquel acendeu o meu cigarro e ficamos as duas fumando e olhando para a TV desligada.
 Mel reapareceu, acredito que estava em seu quarto. 

- Ninguém me oferece um cigarro? – indagou em um tom brincalhão e sentou ao lado de Raquel, deixando-a entre nós duas. Raquel ofereceu um cigarro e ela agradeceu, tendo-o aceso.
 
- Homens são uma porcaria. Olha o que eles fizeram com a gente. – brinquei depois de tragar e as duas riram.
 
- Principalmente homens de McFly. – Raquel disse e eu e
 Mel caímos na gargalhada, a menina olhou sem entender, mas ficamos com vergonha de dizer que o seu inglês é muito engraçado. – No compreendo. (Não entendo.) – resmungou e Mel e eu paramos de rir, tentando imaginar o que significava. 
- Concordo com você, Quel. –
 Mel disse, em seguida deu mais uma forte tragada. Seu celular começou a tocar. – Mensagem! – ela gritou, correndo para o quarto, onde ele estava. 
- Acho que é do
 Mica. – falei e Raquel assentiu. 
- FILHO DA @#$% DO DEMÔÔÔÔNIOOOOOOOOO!!!!! – ouvimos
 Mel berrar e corremos para o seu quarto. Encontramos a doida atirando o celular contra a parede. 
- O que é isso,
 Melanie? – perguntei tentando juntar os pedaços do aparelho, recebendo ajuda de Raquel, apesar de saber que não tinha mais jeito. 
- Aquele imbecil, nojento e argh! – puxou o próprio cabelo e bateu o pé.
 
- O que
 Mica otário apontou? – Raquel perguntou. 
- Ap
rontou. – a corrigi e ela agradeceu. 
- Ele nasceu, Quel. Esse é o problema, ELE NASCEU! AAAAAAAHHH MAS EU MATO, EU ARRANCO AS BOLAS DELE COM UM CANIVETE! –
 Mel gritava cada vez mais alto e nós tentávamos prender o riso. Ela agora descontava toda a sua raiva no cigarro, dando tragadas cada vez mais fortes, sentada na cama. 
- O que ele disse? – perguntei sentando ao seu lado e ela balançou a cabeça. Raquel ainda lutava para conseguir salvar o celular.
 

A noite chegou e nós não soubemos o que
 Mica escreveu para Mel. Ela estava muito irritada e nós preferimos deixá-la sozinha. Fiquei assistindo TV e fumando com a Raquel, a Mel tinha decidido dormir e esquecer que um dia beijou Mica. Ela sempre foi dramática quanto a relacionamentos, mas eu nunca tinha visto coisa daquele tipo, de sair quebrando celular e etc. 

- Você acha que
 Mica gosta Melanie? – Raquel perguntou apagando o seu cigarro no cinzeiro. 
- Não faço a mínima ideia. Os dois são muito orgulhosos. – respondi depressa, porque não queria perder nenhuma fala de Friends, em seguida, apaguei o meu cigarro. – Já fumei demais por hoje, vou tomar banho. Vamos sair? – falei levantando.
 
- Será que
 Melanie querer ir? – ela perguntou preocupada. 
- Não vamos saber se não convidarmos! – respondi brincando e ela riu, se oferecendo para enfrentar
 Mel e chamá-la para sair. Fui para o meu ex quarto e entrei no meu ex banheiro. Não suporto o cheiro de cigarro impregnado em meus dedos, tive logo que tomar banho para não senti-lo. Enquanto passava shampoo, ouvi Raquel chamar Mel e sua resposta não ter sucesso. 

No fundo eu sabia que ela não aceitaria sair, pois quando tem alguma coisa perturbando-a, prefere sumir e esquecer que existe. Não a culpo, sou assim também, mas tinha que esquecer o que tinha visto, ou pelo menos não lembrar tanto e, se ficasse em casa, não conseguiria pensar em outra coisa.
 
Terminei o banho e escovei os dentes, tentei me olhar no espelho, mas ele estava muito embaçado, então simplesmente terminei de lavar a boca e saí, enrolada na toalha. Fui até o quarto de
 Mel, onde estava a minha mala. Raquel já estava em seu quarto, meu ex quarto, escolhendo uma roupa. 

- Vai ficar aí encolhida, mesmo? – perguntei vendo-a se mexer incomodada com o barulho que a porta fez.
 Mel estava toda enrolada no lençol e abraçada no travesseiro. Abri a minha mala e revirei procurando uma roupa adequada para ‘sair’, já que eu não sabia ainda para onde ir. 
- Uhum. –
 Mel respondeu quase meia hora depois de eu ter perguntado. 
- Tudo bem, é um direito seu, mas eu queria que você fosse. – falei com a voz melosa e ela mostrou o dedo, rindo.
 
- Nááá, tô enjoada. – falou com preguiça e eu finalmente encontrei uma roupa boa. Aquele mesmo tubinho que usei quando saímos no Brasil. Ok, eu tinha muitas lembranças, boas e ruins, mas era a melhor roupa e a menos amassada que tinha em minha mala. Coloquei a calcinha e depois me vesti, antes, enrolei os cabelos na toalha. – Que gata, baby. –
 Mel brincou e eu não acreditei que ela tivesse feito isso, já que seu humor não era dos melhores. 
- Obrigada, amiga. Ahhhhhh,
 Mel, queria tanto que você fosse. – disse indo em sua direção e sentando na cama ao seu lado, a abracei apertado e depois fiz cócegas. 
- Sua engraçadinha do demônio. – ela disse em meio a risadas. – Sério,
 Lu, hoje eu não consigo. – falou desanimada. 
- Ouuuuun, ta bom, vou deixar você aí, mas tô levando o celular, se bem que não sei como você vai me ligar se acontecer alguma coisa, já que detonou o seu, né? – levantei da cama e a ouvi rir, lógico que ri também, a risada da
 Mel sempre é algo de animar alguém, até ela mesma. 

Desenrolei o cabelo da toalha e peguei um secador. Passei desodorante e puxei um banquinho para sentar de frente para o espelho e secar o cabelo. Liguei o objeto na tomada e peguei uma escova.Mel levantou e disse que ia fazer aquilo para mim, já que ela era talentosa para essas coisas. Agradeci um milhão de vezes a ela mentalmente, pois morro de preguiça de fazer esse tipo de coisa. Logo Raquel apareceu no quarto, prontíssima, pois não tem problemas com cabelo, seu cabelo é liso escorrido, de dar inveja. Ela se sentou na cama e ficamos as três conversando,
 Mel ofereceu seu carro e, claro, nós aceitamos. Não demorou muito tempo para que o meu cabelo estivesse pronto, Melanie faz milagres, nasceu mesmo para a coisa. Aprontei os últimos detalhes, como perfume, brincos e pulseiras. Raquel deixou seu celular para que Mel utilizasse caso precisasse de alguma coisa. Mel nos desejou ‘boa saída’ – ainda não tínhamos decidido o que fazer – e me deu a chave do carro. Calcei o scarpin preto e deixamos o prédio. 

Dirigir o Porsche da
 Melanie é sempre relaxante. Dá aquela sensação de estar voando. 

- Para onde vamos? – Raquel perguntou ligando o som do carro e procurando uma estação de rádio.
 
- Não sei. – falei virando o volante para a direita, onde íamos dobrar. – Tem um bar muito legal, mas fica bem longe daqui. – dei a sugestão, lembrando-me daquela casa noturna em que
 Mel e eu fomos e encontramos Chay, há muito tempo atrás. Ali havia vários ambientes, dentre eles um bar. 

(Coloque a canção para tocar) 

- Pode ser, deve ser lugar bom, porque eu não conhecer muita coisa ainda de Londres. – ela concordou, dando de ombros e aumentando o volume. – EU AMO ESSA MÚSICA! – Raquel começou a cantarolar bem alto e eu dirigia batendo de leve no volante, dançando com a cabeça.
 
- ESSA MÚSICA ME LEMBRA ALGUÉM! – berrei para que ela ouvisse, já que o volume estava muito alto. Raquel começou a rir e disse que também lembrava alguém para ela.
 
- EU QUERO QUE HARRY SE DANE! – gritou erguendo os braços e continuou a cantar.
 
- E EU QUERO QUE O
 SE DANE MAIS AINDA! – entrei na brincadeira e demos um breve high five, já que eu tinha que prestar atenção no caminho. Essa música realmente me lembrava o Thur. Parece que o descrevia. 

I wanna hit you just to see if you cry
(Eu quero bater em você, só pra ver se você chora)
 

Keep knockin on wood
(Continuo agüentando firme)
 

Hopin there's a real boy inside
(Esperando que tenha um garoto de verdade aí dentro)
 

- NÓS NÃO PRECISAR DESSES HOMENS IDIOTAS! – Raquel tinha mesmo se empolgado e eu ria, concordando.
 

'cuz you're not a man
(Porque você não é um homem)
 

You're just a mannequin 
(Você é apenas um manequim)
 

I wish you could feel
(Eu queria que você sentisse)
 

That my love is real
(Que meu amor é real)
 

But you're not a man
(Mas você não é um homem...)
 

I wish I could just turn you on
(Eu queria que eu pudesse apenas ligar você)
 

But a battery in and make you talk
(Colocar uma bateria e fazer você falar)
 

Even pull a string for you to say anything
(Até mesmo puxar uma corda, para você falar qualquer coisa)
 

But with you there is no guarantee 
(Mas com você não existe garantia)
 

Only expired warranty
(Apenas validade vencida)
 

A bunch of broken parts
(Um monte de partes quebradas)
 

But I can't seem to find your heart
(Mas parece que eu não consigo achar o seu coração)
 

Oh.. I'm such a fool
(Eu sou uma tola)
 

I'm such a fool
I'm such a fool

Cause this one's outta my hands
(Porque isso está fora das minhas mãos)
 

I can't put you back together again
(Eu não posso te juntar novamente)
 

O trânsito não estava ruim, primeiro passamos em um banco, para que eu sacasse algum dinheiro e logo fomos chegando à casa noturna, que, mesmo em dia de semana, estava lotada. Ficamos muito tempo esperando por uma vaga no estacionamento. Não gosto nada de ficar esperando essas vagas, se dependesse de mim estacionaria em qualquer lugar ali por perto, mas o carro não era meu e eu sabia que tinha que cuidar dele como cuido da minha própria vida e até mais, porque se alguma coisa acontecesse com o Porsche, logo eu não teria mais vida. Finalmente uma alma caridosa decidiu ir embora e depois de quase uma hora esperando, conseguimos estacionar. Chequei se o carro estava devidamente alinhado e pressionei o alarme, trancando-o. O rapaz que cuidava do estacionamento nos deu uma fichinha e guardei na bolsa.
 

Além de passar um ano esperando uma vaga no estacionamento, ficamos mais outro na fila para a entrada. O que mais me assusta é que ali é a casa noturna mais cara de Londres, então eu não consigo entender como ela pode ser tão congestionada em dias de semana. Apesar dos empurrões, algumas brigas próximas a nós e gritarias por troco errado, conseguimos pagar a nossa entrada e entrar sãs e salvas. Pegamos o elevador para o último andar, onde ficava o bar. Raquel e eu rimos muito, porque um rapaz bastante esbelto ficou junto com a gente. Era realmente constrangedor, porque o comíamos com os olhos e ele com certeza percebia tudo. Quando a porta se abriu, revelando um belo lugar, altamente sofisticado e consideravelmente vazio, o rapaz puxou cartões do bolso e deu um para cada uma, se apresentando como Alex e nos dizendo que só não pagava um drink porque ficaria pouquíssimo tempo lá, mas que podíamos ligar para uma saída depois. Começamos a rir na cara do coitado, pedi desculpa em seguida e disse que tudo bem, que também estávamos só de passagem, o que era mentira, porque temos amor ao nosso dinheiro.
 

Fiquei me sentindo incrivelmente bem comigo mesma, pois havia me desacostumado a receber cantadas, nem que fossem desse estilo, implícitas. Porque geralmente os caras pagavam para sair comigo e fazer tudo o que tivessem direito. Cheguei até a respirar aliviada por saber que agora eu havia me livrado daquele peso de ser prostituta. Deixamos o elevador e nos dirigimos ao bar. Havia muitos bancos vazios e eu vi um rapaz que me parecia familiar, de costas, sentado e pedindo mais um drink.
 

Não podia ser.
 

Era o dono do nome que mais escutei no dia:
 Mica. Se eu tivesse convencido a Mel a sair de casa, com certeza estaria levando bofetadas por ser a responsável pelo seu encontro com o dito cujo. Cutuquei a Raquel e apontei para ele, ela prendeu a respiração e jogou um olhar de dúvida, então assenti firmemente e nos aproximamos de Mica. 

- Boa noite, cinderelo. – falei baixinho em seu ouvido, por trás, o fazendo quase saltar do banco.
 
- $%#& que pariiiiiu,
 Lua, que susto! – disse e logo após virou mais um pouco de vodka. Então, levantou e me abraçou, em seguida abraçou Raquel e nos convidou para sentar com ele. 
- Nossa, isso parece aquelas cenas de filme em que todos os fracassados se encontram em um bar e choram as mágoas ingerindo vodka e etc. – brinquei e os dois riram.
 
- Ei, mas quem é fracassado aqui? –
 Mica retrucou, é óbvio. 
- Concordo com esse idiota. – Raquel disse, sem medir as palavras e eu belisquei seu braço disfarçadamente.
 
- Você me chamou de que? – ele perguntou irritado, mas prendendo a risada, já devia estar um pouco bêbado, já que o
 Mica sóbrio nunca aceitaria ser chamado de idiota. 
- Você ouviu. – Raquel se manteve firme, cruzando os braços e fazendo careta, comecei a rir.
 
- Ai, gente, só vocês mesmo. – falei, rindo e
 Mica também caiu na risada. Ele não estava mesmo bem. – Você é um idiota, de verdade! – provoquei. 
- O QUE EU FIZ, PELO SANTO @#!@$%? – ele aumentou o tom de voz e Raquel ironizou com um riso debochado.
 
- O que você mandou para a
 Mel, por mensagem? – perguntei intimidando-o com o olhar. 
- Eu? – bateu no próprio peito, incrédulo. – Como ela é fofoqueira!
 
-
 Melanie não fofoqueira, Mica covarde! – Raquel falou irritada, Mica se preparou para responder e eu pedi para que acalmassem os ânimos. 
- Nós moramos juntas e temos umas às outras, então ela precisa desabafar, né? E ela estava muito irritada hoje com algo que você mandou para ela no celular... – comecei e Raquel me perguntou se eu queria pedir algum drink, falei o que queria e enquanto ela fazia o pedido, notei que
 Mica ia começar a falar. Não estava enganada. 
- Oras, ela que começou! – ele começou a falar, como uma criança birrenta. – Eu estava lá, na boa, e ela me mandou uma mensagem dizendo que eu era um saco de merda pra ela...
 
- E você respondeu que...? – perguntei já sabendo que pela frente viria um ‘saco de merda’. O barman, enquanto
 Mica pensava se respondia ou não, entregou os nossos drinks. 
- Ah, falei que eu tô bem, então... Porque até um saco de merda, para mim, vale mais do que ela... – respondeu como se dissesse que dois e dois são quatro e Raquel tossiu.
 
- COMO
 É GROSSEIRO! – falou com as mãos na cintura e levantou, dando passos largos até o sofá que ficava no meio do salão. Lógico que não largou a sua bebida. 
- Essa índia é louca como a sua amiga, elas se merecem! – exclamou irritado, observando Raquel sentada a metros de distância. Eu apenas ri.
 
- Vocês parecem crianças. – falei simplesmente e ele me olhou, incrédulo.
 
- Ela me xinga e eu sou criança?
 
- Não, seu idiota, tô falando de você e da
 Melanie. Convenhamos, né? Você não tinha nada que pegar a Holy! – assim que terminei de falar, Mica deu um tapa na própria testa e balançou a cabeça negativamente. 
- A sua amiga acha que eu fui propriedade dela?
 
- A minha amiga tem nome...
 
- Eu não quero dizer o nome dela...
 
-
 Mica! 
- Tá, tá... A
 Melanie é muito possessiva. – ele cedeu, em tom arrastado, como se desdenhasse do nome dela. 
- Claro que não e, francamente, eu esperava mais de você! Não uma birra de criança da sexta série de ficar com alguém que estuda com a ex, só para provocar. – explodi e ele ficou boquiaberto, em seguida riu.
 
- Eu mereço! Agora o mundo gira em torno da
 Melanie! 
- Quando você gosta dela... – insinuei e ele arregalou os olhos. Eu precisava ver de que forma reagiria.
 
- Não, eu não gosto dela. É impossível gostar de alguém como aquela louca! Ainda mais eu, um cara que pode ter quem quer e garotas muito mais gostosas e simpáticas... Tá, não que a simpatia importe muito... Mas ajuda, e a
 Melanie é uma nojentinha chata e infantil, possessiva, histérica e mal educada. – Mica desembestou a falar, exatamente como Mel fez quando insinuei que ela estava apaixonada por ele. Aproveitei para pedir outro drink, durante a palestra sobre como Mel é uma pessoa ruim. 
- Vocês dois são exatamente iguais. – soltei e ele ficou ainda mais exaltado.
 
- Nunca, se eu fosse igual a ela, estaria em um hospício, mas não, eu sou um cara altamente elegante, fino e famoso, além de ter uma beleza indescritível e uma inteligência inigualável. Você não quer mesmo me comparar com ela, quer? –
 Mica deu um show de arrogância e modéstia, o que me fez quase correr para sentar ao lado de Raquel. Mas não, eu sentia que tinha de me meter na história dele com Mel. 
- Você já percebeu o quão fácil é falar mal dela? Com ela acontece do mesmo jeito, só consegue abrir a boca para falar mal de você. Será que vocês não enxergam que isso é frustração por nenhum dos dois renunciar ao orgulho? – desabafei e ele apenas ouviu tudo calado, por alguns segundos eu até jurei vê-lo assentir disfarçadamente.
 
- É, apesar de tudo, eu sinto falta dela. – mal acreditei que estava ouvindo aquilo sair da boca de quem falava. Agora quem ficou muda fui eu. – Que é? A
 Melanie tem lá as suas qualidades... Ela até que é engraçadinha, charmosinha, gostosinha... – quando ele falou a última qualidade, levou um belo tapa na nuca. 
- Idiota! É só que eu não esperava que você fosse assumir que sente falta dela.
 
-
 Lu, eu te mato se ela ficar sabendo que eu disse isso. Tô confiando em você, até porque acho que nós nunca mais vamos nos ver, depois daquelas mensagens. 
- Lógico que ela não vai saber disso! – menti. – Mas... Eu acho que ela sente a sua falta também. – um olhar revoltado se transformou em um olhar esperançoso, de súplica. Parece que o que eu acabei de dizer realmente afetou a pedra que protegia o coração de
 Mica. 
- Você tá falando sério? – perguntou em um tom ansioso, mas logo balançou a cabeça. – Digo, não me importa. – deu de ombros. – É lógico que ela sente a minha falta, que garota não sentiria?!
 
-
 Mica! – dei mais um tapa em sua nuca e ele se esquivou. – Eu desisto, sinceramente. Barman!!! – chamei, para pedir mais um drink. Virei para me comunicar com Raquel, mas desisti, pois ela estava conversando bastante animada com um rapaz. 
- O Harry dançou! –
 Mica comentou, me dando a certeza de que estava vendo a mesma coisa que eu. 
- Não, ela não vai beijar esse cara, tá fazendo isso pela auto estima. – falei confiante e
 Mica soltou um riso debochado. Pedi mais uma dose dupla de Sex on the Beach e Mica disse que experimentaria aquele drink feminino. 
- Mulheres... Tudo pela auto estima. – desdenhou.
 
- Você já deveria ter percebido que tem o mesmo problema. – retruquei e ele me deu uma cotovelada. – É sério,
 Mica. Você pensa que eu não sei que esse seu jeito intocável é apenas um escudo pra proteger o cara sensível e melosamente romântico que existe aí dentro. – falei apontando para o seu coração e ele abanou o ar, fazendo careta. 
- Parabéns, você me decifrou! – ironizou e nós rimos. O barman trouxe as bebidas e
 Mica adorou o Sex on the Beach, pedindo desculpas por ter chamado de drink feminino. 

Ficamos conversando e bebendo por várias horas. Um pouco depois de conversar com aquele cara no sofá, Raquel voltou a se reunir conosco, pediu para que
 Mica a abraçasse, para fingir que estavam juntos, porque estava sendo perseguida pelo rapaz que queria beijá-la. Mica disse que só fingiria se ela pedisse desculpa vinte vezes, e ela o fez. Tudo pelo desespero. O cara ficou nos rondando por muito tempo, até finalmente ir embora do local, então Raquel se desvencilhou de Mica, que insinuou se desinfetar, levando várias bolsadas na cabeça. 
Saímos do bar por volta de três da madrugada,
 Mica era o mais prejudicado, pois estava bebendo desde cedo. 

- Você veio como? – perguntei a ele quando chegamos ao estacionamento.
 
- Não sei, acho que de táxi. – respondeu confuso, como se procurasse seu carro.
 
- Vem, eu te levo. – falei entrelaçando o meu braço no dele, para que não fugisse. Raquel pegou a chave e já foi pressionando o alarme.
 
- Eu vou mesmo no carro da
 Melanie? – ele perguntou dando um meio sorriso. 
- É, se quiser ir... – brinquei e ele riu.
 
- Qual o problema de ir no carro de
 Mel? – Raquel perguntou, já na defensiva. Ela e Mel são realmente muito engraçadas. 
- É que eu pensei que nunca mais ia entrar nesse carro! – respondeu rindo e Raquel mandou que ele fosse na frente, já que desceria primeiro.
 
- A
 Melanie não pode nem sonhar que você andou aqui! – falei tentando imaginar o escândalo que a minha amiga faria se soubesse que Mica esteve em seu carro. 

Raquel me deu a chave e nos ajeitamos no carro. Liguei o veículo e pagamos o estacionamento. Apesar de fazer bastante tempo, ainda lembrava o caminho para a casa de
 Mica e, mesmo levemente embriagada, lembrei de que foi em sua casa que engravidei de Thur. 

Raquel até prendeu a respiração ao ver a casa de
 Mica, pensando a mesma coisa que todas as pessoas que vão até lá pensam: como uma casa tão bonita e bem cuidada pode pertencer a ele. Mica nos chamou para entrar, mas recusamos, porque Raquel tinha aula cedo e bem, eu não tinha nada para fazer, mas não ia ser egoísta e prejudicá-la. 

-
 Mica... – o chamei antes que deixasse o carro. 
- Hum? – perguntou recuando.
 
- A
 Melanie gosta de você. 
- ELA TE DISSE ISSO? – ele perguntou com um sorriso que mostrava todos os dentes, me fazendo rir.
 
- Não, mas eu acho que sim. – de um sorriso aberto, sua expressão se transformou em desânimo.
 
- Ah, então não vale a pena. – deu de ombros.
 
- Francamente, vocês não sabem mesmo correr atrás de uma mulher? – perguntei incrédula. São todos exatamente iguais.
 
- Homens são todos frouxos! – Raquel, que raramente se manifestava, soltou do nada, fazendo
 Mica se virar e se preparar para dar uma resposta à altura. 
- Raquel, por favor, não complica! – pedi e ela pediu desculpas.
 Mica voltou a sua atenção para mim. – Eu sei que você também gosta dela. – assim que falei isso, ele balançou a cabeça em sentido negativo, freneticamente. – Não importa o que você faça ou fale, eu sei que você gosta. Então, mesmo você estando bêbado, eu quero que você se lembre dessas duas palavras: CORRE ATRÁS. 
- Mas eu... – parecia disposto a colocar obstáculos.
 
- Tchau,
 Mica. – o cortei e olhei para frente, como se ignorasse qualquer coisa que viesse a falar. Ele, então, deixou o carro, se inclinando para nos ver pela janela. 
- Tchau,
 Lu, obrigado pela carona. – falou sério, visivelmente pensativo e atordoado, então acenei. – Tchau, louca. – disse olhando para Raquel, ela apenas mostrou o dedo do meio, rimos. 

Observei-o entrar em casa e dei a partida no carro. Raquel estava estirada no banco de trás, devia estar pegando no sono. Odeio dirigir sem nenhum barulho, então a primeira coisa que fiz foi ligar o som e colocar em uma estação de rádio que era a minha favorita na madrugada. Tocavam exatamente as melhores músicas antigas que existiam. No momento, tocava “Last Kiss”, do Pearl Jam. Aquela música sempre me deixava em pedaços, antes mesmo de conhecer o
 Thur e me apaixonar por ele. Simplesmente pela sua melodia e história, o tipo de coisa que me emocionava em filmes. Eu nunca fui do tipo romântica e não me culpo por ter me apaixonado por alguém completamente sem nenhum romantismo. Se Thur fosse tudo o que as garotas costumam querer, passaria longe de me atrair. Passaria longe do meu coração, passaria longe dos meus pensamentos todos os dias. O que eu mais gostava nele era o simples fato de sempre me surpreender. Ele estava tão lindo! Mesmo vendo-o na hora errada, ainda assim não consegui deixar de notar o tanto que mudou, o quanto consegue mexer cada vez mais com o meu sistema nervoso. 



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6 comentários:

  1. posta +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

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  2. Ameeeeeeeeeeeeeeei <3 mas essa web fica cada vez mais enrolada ein e eu a amo cada dia mais por isso <3

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  3. ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

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