21 de fev. de 2013

{FIC} Little Star (Adaptada)


Capítulo Oito p.3



No dia seguinte Lua acordou melhor do que pensava que estaria. Era só um dia como qualquer outro, pensou. Mas sentiu sua garganta se fechar ao encarar a data. Exatamente um ano. Isso era muito ou pouco? Ela nunca sabia. Se você via uma criança de um ano pensava que ela era muito nova, tinha nascido praticamente ontem, mas ao pensar que passou 365 dias sem sua filha, isso parecia uma eternidade. Uma eternidade que só iria aumentar ao longo dos anos. O primeiro ano de muitos.
Ainda estavam de manhã, ela tinha o dia inteiro para enfrentar.
Tomou um banho demorado e então foi tomar café-da-manhã. Encontrou Catherine sentada na mesa da cozinha, parecendo só a esperar. Ela olhou para Lu com pena, já esperando que a irmã agisse depressivamente.
- Hey, como você está? – Perguntou – Quer que eu faça alguma coisa para você?
- Não, Cath, está tudo bem – Falou, enquanto pegava sua xícara e começava a preparar seu chá – Eu vou sair daqui a pouco, se Jim tentar falar comigo, diga que eu fui trabalhar, tudo bem?
- Não acredito que você ainda não contou para ele o que aconteceu. Isso foi uma parte da sua vida, Lua, se você quiser ter um relacionamento sério com ele, não pode esconder isso.
- Eu errei com você, Stell. Eu deveria estar lá para você, mas eu não estive, não é? Eu não estive lá para te ajudar... E então você se foi, porque eu falhei. Eu falhei como mãe. E eu sinto muito por isso. Você merecia ter tido pais melhores... Pais que cuidariam bem de você e não deixariam você ir, então você teria vivido alguma coisa, talvez até os cem anos, quem sabe!? – Ela riu, enquanto as lágrimas rolavam, sua voz já não saia mais direito, por causa do choro, mas ela continuou – Acho que eu não deveria mais chorar. Eu deveria ficar feliz por pelo menos ter tido a chance de viver isso. Ter tido a chance de ter uma filha como você. De ter tido um marido como Thur, e uma família com tanto amor para dar. Me desculpe, Stella. 
A última frase não deu para ser ouvida, então ela apenas começou a chorar. Ela soluçava, tanto que as pessoas que passavam paravam para olhar, alguns até perguntavam se estava tudo bem e ela precisava de ajuda. Todos ali tinham perdido alguém ela pensou, mas de algum modo ela sentia que tinha perdido mais. 
- Já faz um ano, mas às vezes eu ainda acordo pensando que tudo não se tratou de um pesadelo – Ela continuou a falar, já mais calma – E ainda dói como se fosse ontem. E dói tanto, querida. Eu estou melhor em esconder. Já não choro mais todo dia e posso passar algum tempo sem nem me lembrar de nada, apenas ignorando o mundo. Mas no fundo está lá, só esperando um momento de fragilidade para voltar com toda força. Como agora, por exemplo.

Ela parou de novo, enxugando as lágrimas discretamente, mas sabendo que seria impossível disfarçar, seu rosto já estava completamente inchado. Ela olhou para o céu por um momento. Só conseguia ver o sol brilhando, apesar do céu estar bastante nublado. Mesmo de dia, as estrelas ainda estavam lá, ela pensou, você não podia vê-las, mas elas estavam. Ela imaginava que era a mesma coisa com as pessoas que já se foram. Não é porque elas eram fantasmas, vagando por ali, Lua não acreditava nisso, mas porque elas estavam guardadas no coração de cada um e ali elas viveriam para sempre.
- Eu estou saindo com um outro homem – Falou, como se confessasse isso para a filha – O nome dele é Jim, ele trabalha comigo e eu gosto bastante dele, acho que você iria gostar também. Eu ainda amo seu pai, mas sem você tudo ficou tão difícil. Não é fácil compartilhar a dor, aceitar que a outra pessoa está sofrendo tanto quanto você e não poder se apoiar nela. É mais fácil simplesmente se fechar em seu mundo, mas aí você acaba afastando os outros e ficando sozinha. Foi isso que aconteceu comigo. Ao te perder, eu perdi a mim mesma, a minha vida e a minha família. Eu estraguei tudo, não foi, Stella? Agora é tarde demais e eu tenho que aproveitar o que eu tenho, o que na verdade é bastante coisa. Eu tenho Jim, Catherine, Micael, agora voltei a falar com Sophia. E eu ainda tenho você, não é? Apesar de tudo, você ainda está aqui comigo, me guiando, mesmo sem saber. 
Lua ficou calada por um momento, apenas aproveitando o momento, sentindo como se realmente estivesse conversando com Stella. Ela não se sentia maluca. E, pela primeira vez em um ano, ela não sentia como se faltasse um pedaço. Estava completa. 
- Eu te amo, filha, Espero que eu tenha te mostrado isso enquanto pude – Murmurou – Acho que eu nunca tive a oportunidade de te dizer isso, mas espero que você descanse em paz. 
Mesmo que parecesse um pouco inadequado, Lua beijou a lápide, e deixou as lágrimas a molharem. Em uma pequena parte de seu coração, ela esperava que as lágrimas ressuscitassem sua filha, como em um conto de fadas. Mas contos de fadas não aconteciam na vida real, as pessoas que morriam continuavam mortas para sempre. Lua continuou a chorar em silêncio ali, enquanto as lágrimas caiam, ela sentia a dor diminuindo. 
Ela estava com a vista embaçada demais para notar Thur ali parado a observando. Ele estava há algumas lápides de distância, não podia escutar o que ela dizia, mas conseguia ver que ela falava alguma coisa. Ao invés de pensar quão estranho era aquilo, ele achou adorável. Dolorosamente adorável. Lágrimas escorregavam por seu rosto, e ele não sabia se eram por Stella, por Lu ou por ele mesmo. 

Autora:Juuh Aguiar

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