9 de mar. de 2013

{FIC} Little Star (Adaptada)


Capítulo Treze p.1 (CAP 1/2)



Novembro, 2008

- Você está bem? – Lua perguntou, observando que Thur não falara nada desde que se afastaram no cemitério.
Eles estavam dentro do carro agora e, apesar de Arthur ter colocado a chave na ignição, não tinha ligado o veículo. Quando ele apenas assentiu em resposta, Lua se aproximou e o abraçou, precisavam estar juntos nesse momentos. Por algum tempo, eles apenas ficaram abraçados um ao outro, quando Thur começou a chorar, Lua apenas o abraçou mais forte. 
- Deixa que eu dirijo. – Ela falou, mas Thur negou com a cabeça, limpou as lágrimas e deu partida no carro. – Vamos para casa.
Os dois ficaram em silêncio pelo caminho, também não ligaram o rádio. Quando paravam em um sinal, Lu olhava de soslaio para ele, apenas para verificar como estava dirigindo. Sabia que não precisava dizer nada, estar ali ao seu lado era o suficiente. Ou, pelo menos, ela esperava. Não sabia o que tinha se passado quando Arthur ficara sozinho no cemitério. E talvez não quisesse saber. Mesmo compartilhando a dor, tinham coisas que eram pessoais demais e deveriam ser enfrentadas sozinhos, ela entendia isso.

Thur parou em frente a sua casa. Raramente eles utilizavam a casa. Lu não se sentia à vontade indo até lá; na verdade, não tinha muita coragem de voltar, todas às vezes que entrara ficara por poucos minutos, até convencer Thur a irem para seu apartamento. Agora, entretanto, ele nem ao menos pensou que ela poderia estar se referindo ao apartamento, aquela era a casa deles, afinal.
Lu não disse nada, apenas saiu do carro, entrando na casa acompanhada de Arthur. Sentiu seu coração dar um pulo ao pisar na sala, como acontecia toda a vez que entrava no lar. Ela ficou parada no meio do cômodo por alguns segundos, Thur colocou a mão em suas costas, como se a incentivasse a andar. Lua, porém, não se moveu, olhou para as escadas, observando as portas que davam para os quartos. 
Pegou a mão de Thur, apertando-a, e subiu as escadas, sentindo-se um pouco nervosa e, por causa disso, um pouco estúpida. Ao chegar lá em cima, nada pareceu diferente, sorriu para Thur, como se dissesse que estava tudo bem. A porta do quarto de Stella estava fechada e, Lu imaginou, deveria estar assim há um bom tempo. Ela passou direto, indo em direção ao seu antigo quarto.
No dia em que Stella morrera, ela ficara sozinha. Em 2006, apesar de ter estado com Jim, ela, no fundo, estava sozinha, compartilhara com ele sua história, mas não sua dor. No ano anterior, optara pela solidão também. Agora, ela precisava estar com Thur e não sabia como. Não sabia como estar verdadeiramente com ele e não apenas ao seu lado.
- Você não mudou muita coisa na casa. – Ela comentou, por fim. Diria, na verdade, que ele não mudou nada, mas resolveu deixar quieto. Thur apenas assentiu, sabendo que não fizera mudança alguma, literalmente, apenas limpava e botava tudo no lugar novamente. – Isso é estranho.
- Por quê? – Ele franziu a testa, não era estranho, era normal para ele. Não muito saudável, mas normal. – Está bom do jeito que está.
- É, mas a impressão que dá é que voltamos ao tempo. – Lu falou, enquanto observava o quarto e percebia que era realmente verdade o que dizia. – Faz parecer que tudo continua igual.
Ela não precisou colocar em palavras para Thur saber o que ela queria dizer: parecia quase que Stella ainda estava viva. Dava a sensação de que, quando saíssem do quarto, encontrariam Stella rondando a casa. Esse era o objetivo, ele pensou consigo mesmo. 
- Isso é errado, você sabe. – Ela completou. – Você precisa deixá-la ir, Arthur.

- Não sei do que você está falando. – Ele tentou acabar com o assunto, levantando-se da cama e andando pelo quarto; passou a mão pelo cabelo, sentindo o nervosismo de quem estava fazendo algo errado. – Eu não paro muito em casa, com os shows e tudo mais. Não tenho tempo para ficar rearrumando os objetos e mudando a decoração. É sem sentido, tudo está ótimo do jeito que está.
Lua o olhou, com pena. Não somente com pena de Thur, mas um pouco com pena dela mesma, pois sabia que aquela já havia sido ela uma vez. A diferença era que Thur escondia muito melhor, poucas pessoas conseguiam ver que ele precisava de ajuda. Ao contrário dela, que deixava claro para todos o quanto ela estava sofrendo, o quanto ela rejeitava a morte da filha. 
Thur não rejeitava a morte de Stella, ela sabia. Apenas não conseguia deixar para trás. E Lu entendia isso, entendia completamente. Ela tinha tido ajuda profissional e talvez só por isso tivesse conseguido superar. Não sabia se somente sua ajuda seria o suficiente para fazer com que Thur superasse também.
- Isso é mentira, Thur. – Ela respondeu; sua voz calma e o tom de censura fez Arthur estremecer. – Mudar ajuda a aceitar que as coisas mudaram. Você mudou, a casa precisa mudar também. – Ela completou. – Fica esse clima sombrio toda a vez, é como se algo nos impedisse de continuar com a vida.

- Mas eu estou continuando com a vida, eu estou. – Ele murmurou, tão baixo que Lu quase não pôde ouvir. – Não é isso que eu venho fazendo há três anos? Levando a vida. Quando eu vou parar de continuá-la e simplesmente viver? 
Sentiu a irritação borbulhar dentro de si. Tudo o que ele vinha fazendo era continuar com a vida, ele já estava fazendo isso, por que todos continuavam insistindo no assunto. então? Por que Lu estava falando isso? Logo ela, dentre todas pessoas. Fora Lua, afinal, quem ficara chorando durante meses. Fora ela quem entrara em depressão e precisara tomar remédios para lidar com a dor. Por que, então, era ele quem estava pior agora? Por que era ele quem não conseguia mudar?
- É você quem está dizendo que não está vivendo. – Lua falou, dando de ombros. – Você tem controle sobre a sua vida, Arthur. Se está irritado com a situação, mude-a.
Thur não soube responder aquilo. Não queria magoar Lua com um comentário rude, sabia que ela estava apenas tentando ajudar. Não estava conseguindo. “Mude-a”, como se fosse simples assim. Ela chegava ali e jogava tudo aquilo em cima dele, toda a verdade sobre seus sentimentos que ele vinha tentando esconder, e agora falava isso. Irritado, ele saiu do quarto e entrou no banheiro. Tomaria um banho para se acalmar e, quando saísse, era melhor Lu ter encontrado um assunto melhor.

Creditos: Juuh Aguiar

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