{FIC} O Inverno

Capitulo 1  A primavera, o verão e o outono.

Narrado Por Arthur Aguiar

É incrível como as coisas não dão certo às vezes, sabe que dia é hoje?  20 de Março, isso mesmo primeiro dia da primavera, e sabe onde eu estou? Em um carro indo para a casa dos meus tios, vou passar lá no mínimo dois anos. Por que minha mãe morreu, quando eu nasci nem lembro dela direito, e agora o meu pai também morreu. E sim eu estou triste, mas ele me disse antes de morrer que não era para eu me abater por isso, estou somente cumprindo minha misera promessa, mas na verdade, gostaria de sentar em algum lugar e chorar muito. Mas sabe por que estou tão revoltado com o primeiro dia da primavera? Por que eu e meu pai sempre esperávamos a primeira flor do jardim florescer juntos, pode parecer baboseira, mas na verdade era muito importante ter esse tempo com meu pai e agora ele se foi. Minha tia mora em Londres, com seu marido (claro) e uma filha, Sophia, eu nunca a vi, mas na verdade não estou curioso, estou perdendo o começo da minha estação favorita preso em um carro. Quando cheguei, fui recebido por minha tia, linda e loira, tinha belos olhos verdes, seu nome era Eve, seu marido, um homem alto,  com cabelos pretos, e olhos azuis, incrivelmente azuis, seu nome era Max , e a filha dos dois, minha prima, Sophia, tinha belos olhos azuis, iguais os do pai e cabelos longos e loiros iguais os da mãe, eles foram muito gentis comigo. Mas a minha vida continuava sem cor, carregamos minhas malas para dentro, a primavera em Londres era linda, até mesmo naquele pequeno e pobre bairro, comparado aos outros, claro. Foi no final de tudo que aconteceu, quando minha tia e meu tio se despediam do motorista e eu e minha prima estávamos no portão, olhando para a rua, via as pessoas passarem, até que uma garota me chamou atenção, ou melhor, uma cor me chamou atenção, os cachos loiros balançavam quando ela andava, um nadar suave e bem feminino, andava de cabeça baixa, como se devesse algo para o mundo, carregava algumas sacolas, usava um vestido que iam até seus joelhos, e não deixavam muitos os braços a mostra. Ela andou até uma casa perto da casa de minha tia, duas casas depois do outro lado da rua. Eve que deveria ter acompanhado meu olhar, chegou perto de mim e murmurou.

- Qualquer menina menos essa meu querido, esta daí já nasceu com a reputação arruinada, e você não deveria olhá-la assim, vai ficar mal falado.

Dito isto, ela se virou e foi entrando em casa, dei mais uma olhada e então me virei também, estava aborrecido pelo modo que minha tia havia falado dela, o que poderia ter de tão errado em uma menina com cabelos tão lindos e intensos? Dentro de casa, todos falavam animados sobre minha nova escola, mas eu realmente só pensava no loiro, nos cabelos loiros da linda menina que era nossa vizinha, a primeira vez que eu a vi foi na primavera. Tinha que ter alguma razão para isso, eu pensava abismado, poderia ser alguma  mensagem subliminar do meu pai, mesmo não sabendo onde ele esta, ele esta comigo sempre, no meu coração. Pode parecer meloso, mas desde que ele morreu, eu acredito fielmente nisso, era um jeito de não deixar a solidão me abater, decidir então, ia falar com ela, no outro dia, sem falta. Eu não falei com ela no outro dia sem falta, simplesmente não consegui, minhas pernas fraquejaram e eu me senti um incrível idiota, não sabia o que falar para ela e passei assim a primavera toda, o verão, o outono e só fui falar com ela no inverno. Estudávamos na mesma escola, e lá ela não tinha amigos, não falava com ninguém, ok, mentira, alguns meninos falavam com ela e não era legal, ele sempre faziam piadinhas, e o que mais fazia era Téo, ele se achava o mais lindo de todos com seus cabelos loiros e olhos verdes azulados arrancava suspiro de muitas meninas, mas aparentemente ele tinha a mesma paixão que eu tinha pelo proibido e seu alvo era Lua, alias eu descobri por que ninguém fala com ela, a mãe dela é uma mulher da vida. A prostituta mais conhecida de todo o bairro, alias não só do bairro, dizem que o marido dela, pai de Lua, e a própria Lua não sabem de nada, eu duvido que Lua saiba de nada, afinal ela sempre ouvi esse tipo de piadinha, “ loira incrível, quanto eu pago para ter você?” e algumas piores, não vou citar aqui, será que ela pensa que os meninos agem assim com ela por que ela é vulgar? (coisa que ela não é), bom voltando ao Téo, ele sempre corre atrás dela, às vezes com piadinhas, mas eu já o vi chamando-a para sair, sem citar nada referente à profissão da mãe dela. Mas ele pode ser cruel às vezes, pro exemplo, uma vez que ela chegou com os olhos vermelhos na escola, eu juraria que ela esteve chorando e muito, todos perceberam, mas o Téo não se importou e quando ela passou pela mesa na qual estávamos ele falou:

- loirinha, sabe que eu estava pensando se eu te quiser mais de uma vez em uma noite é mais caro ou você cobra por tempo e não quantidade?

Eu vi que ela segurava as lagrimas e ia saindo quando Téo levantou e se colocou em sua frente.

- E se eu variar nas posições tem problema?

E então ele sussurrou algo em seu ouvido, ninguém ouviu, mas deve ter sido algo horrível, por que depois ela olhou para ele e saiu correndo, o que era novidade, por que ela sempre ouvia tudo calada e sem demonstrar emoções, depois quando eu passava por uma área vazia da escola, ouvi um choro e sabia que era ela, só não tive coragem de falar nada, então peguei um saquinho que tinha na minha mochila, uma folha pequena de papel, peguei um lenço coloquei no saco e depois escrevi no papel “não chore, seus olhos são maravilhosos demais para ficarem inundados por lagrimas.” Coloquei junto com o lenço no saco e coloquei uma borracha para ter peso, e joguei nela, vi que bateu no seu pé, eu levantei e sai correndo antes que ela viesse ver quem deixou aquilo ali e nem pude ver sua reação.

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