Capítulo
Doze p.2
Eles nunca tiveram que discutir a
relação antes. Ele suspirou, tentando encontrar as palavras certas. – Como eu
vou esquecer você agora, Lu? Como devo recomeçar, mais uma vez, minha vida?
- E por que você precisaria me
esquecer?
Ela ergueu as sobrancelhas, olhando
para ele, como se o desafiasse. Lua se aproximou dele, segurando suas mãos.
Sorriu quando ele olhou para ela e Thur sorriu de volta. Ela se aproximou mais
e o beijou. Foi um beijo curto, mais para acabar com o assunto do que qualquer
coisa.
- E como nós ficamos? – Ele perguntou
quando eles se separaram. Lu deu de ombros, não sabendo como responder.
- Deixe que o tempo dirá. – Ela
sorriu. – Não vamos apressar nada, Thur, com o tempo tudo se resolverá sozinho.
Ele assentiu, apesar de não concordar
inteiramente. Tinha mais coisas para falar com Lu, muito mais coisas. Os dois
sabiam que tinham milhões de assuntos pendentes, mil conversas inacabadas,
inúmeras perguntas e dúvidas, mas se passaram tantos anos sem respostas, não faria
diferença mais alguns dias. Deixando o que tinha a dizer de lado, abraçou Lua,
puxando-a mais para seu colo e a beijou, contente por tê-la em seus braços
novamente.
- Sério mesmo que você não vai me
contar para onde está me levando? – Ela perguntou, fingindo-se de irritada, mas
sorrindo como uma boba, rindo um pouco. – Vamos lá, Arthur, me conte! - Ela
bateu no braço dele, de brincadeira, e fez bico quando ele virou para olhá-la.
- Já disse, estamos chegando.
Chegaríamos ainda mais rápido se você parasse de me agredir e eu pudesse
dirigir direito. – Ele completou, reclamando, e Lua, ao seu lado, revirou os
olhos.
Já fazia mais de uma semana que eles
estavam saindo juntos, ou seja lá o que estava acontecendo entre eles. Desde
aquele primeiro dia, não tinham mais conversado sobre o que iria acontecer ou
tinha acontecido, estavam apenas aproveitando o momento. Lua estava agradecida
por isso, mas sabia que, quanto mais tempo passava, mais tenso o clima ficava,
às vezes, como se certos assuntos precisassem ser resolvidos logo, para poderem
continuar. Ou terminar. Esse era o problema, o medo de que tudo pudesse acabar
novamente.
De qualquer forma, Thur resolvera
levá-la para sair naquele dia e não queria, de jeito nenhum, contar-lhe para
onde, o que só serviu para deixá-la curiosa. Adorava receber surpresas, mas não
gostava nem um pouco daquele sentimento que vinha antes, de não saber o que lhe
esperava.
Quando Thur começou a diminuir a
velocidade, Lua resolveu olhar pela janela. Franziu a testa quando ele parou em
frente a um restaurante, entregando o carro para um manobrista. Ao sair do
carro, entretanto, ela começou a reconhecer o local, olhou para Thur, como se
lhe perguntasse se estavam mesmo onde achava que estavam
- Acredito que eles tenham mudado o
cardápio desde a última vez que estivemos aqui, mas não muito, já que o nome
continua o mesmo. – Ele observou, sorrindo para Lu.
Puxou-a pela mão para entrarem no
restaurante. Por sorte, um casal tinha acabado de pagar a conta e eles não
tiveram que esperar nem dois minutos para se sentar. Quando o garçom lhes
entregou o cardápio – que, surpreendentemente, não tinha mudado tanto assim –
Lu finalmente conseguiu falar alguma coisa.
- Eu não acredito que você se lembra
do lugar. – Ela falou, ainda meio maravilhada.
- Ora, querida, como você queria que
eu me esquecesse do nosso primeiro encontro? – Ele sorriu e, então, pareceu
meio pensativo. – Meu plano original era te levar para aquela sorveteria perto
do colégio, onde te beijei pela primeira vez. – Ele completou, com uma feição
divertida. – Mas acabou que fechou há muitos anos atrás e agora é um
cabeleireiro. Achei que não era uma boa ideia te levar lá para comer.
Lua riu, ainda sem palavras. Era
incrível como Arthur pensava em tudo, como ele se lembrava dos mínimos
detalhes. Ele teve o trabalho de procurar pela sorveteria – Ele se lembrava da
sorveteria, para começar! – e depois o restaurante. Como ela tinha deixado que
ele fosse embora uma vez? Duas vezes, aliás. De uma coisa ela tinha certeza:
ela não deixaria uma terceira vez acontecer.
- Então, por que me trouxe aqui? –
Ela perguntou, sem desmanchar o sorriso, enquanto esperavam pelo jantar. –
Alguma ocasião especial?
- E eu preciso de motivo para te
levar para jantar? – Ele ergueu as sobrancelhas.
- Então foi só para mostrar que ainda
lembrava o lugar mesmo? – Ela perguntou, rindo, e revirou os olhos quando Thur
confirmou.
Como Lu não sabia mais o que dizer,
ainda levemente encantada com Thur, os dois fizeram o pedido em silêncio,
trocando olhares e sorrisos de vez em quando. Apenas quando a comida chegou,
eles começaram a falar sobre alguma coisa. Eles conversavam sobre qualquer
coisa. Uma das coisas que Lu mais gostava sobre Thur, é que eles podiam falar
sobre tudo. E, exatamente por isso, Lua sabia que Arthur não estava falando
alguma coisa que queria e aquilo a estava encucando. É claro que ela
desconfiava do que ele iria dizer, mas queria que ele falasse do mesmo jeito.
Ia acontecer eventualmente, de um jeito ou de outro.
- Então, você vai me dizer realmente
por que me trouxe aqui? - Ela perguntou, enquanto eles saíam do
restaurante.Thur apenas pegou sua mão e andou em direção ao carro. – Sério, eu
sei que você está pensando em alguma coisa, pode me contar.
- Como nós estamos, Lu? – Ele
perguntou, finalmente, como se estivesse desabafando alguma coisa.
- Bem? – Ela riu da pergunta, mesmo
sabendo o que ele queria dizer. Ele a encarou um pouco sem paciência e Lu ficou
séria novamente, dando de ombros. – Eu não sei, Thur, o que você quer que eu
diga?
- O que nós somos. Quando eu for
apresentá-la para alguém, como devemos introduzi-la? Como minha esposa,
ex-mulher, namorada?
- Que tal só como “Lua”? – Respondeu,
sem saber o que Arthur queria dela. O que ele esperava? Ela sabia tanto quanto
ele sobre isso. – Tecnicamente, nós estamos casados. Mas não na prática, então
acho que isso nos faz namorados, de novo. – Ela tentou simplificar.
- Namorados? – Ele franziu a testa,
como se não achasse o termo adequado.
E não era. Mas não existia nenhuma
palavra que eles conhecessem, pelo menos, que definisse a situação em que
estavam. Namorados era simples demais, é claro, não chegava nem perto de
resumir o que representavam um para o outro, mas para fins práticos era a
melhor definição que podiam encontrar.
- Por enquanto, pelo menos. – Ela
completou e sorriu para Thur. – Vamos para a minha casa agora.
Creditos:
Juuh Aguiar
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