Capítulo Oito p.4
Pensou se deveria se aproximar, mas achou inapropriado. Aquele era o
momento de Lua com Stella, ele não iria atrapalhar. Por mais que tivesse
vontade de ir até lá e abraçá-la, ele não podia o fazer. Por isso, apenas deu
meia-volta, engolindo o choro e voltando para casa. Ele visitava Stella todo
mês, para ele já era algo normal, mas para Lua aquilo era especial, ele sabia.
Ela finalmente estava aceitando completamente que Stella não voltaria. Talvez
um dia ela estivesse pronta para voltar para ele. Talvez, ele pensou, ele
devesse parar de sonhar e esperar o impossível. Lua tinha um namorado agora,
ele já soubera por Micael, não tinha mais espaço para ele em sua vida. Ele
deveria fazer o mesmo. Mas era mais fácil falar do que fazer, ele só conseguia
mesmo esquecer seus problemas quando estava bêbado, o que andava acontecendo
frequentemente nos últimos meses. Assim mesmo que Lua nunca voltaria para ele.
Mas ela está melhor assim, ele pensou. Com ele, Lua nunca conseguirá
deixar o passado de lado.
Lua levantou-se rapidamente quando a campainha tocou. Ela tinha chegado
em casa fazia algumas horas, e apesar de já ter tomado banho e lavado o rosto,
ele continuava inchado e ela continuava se sentindo miserável. Talvez comer a
faria se sentir melhor. Ela não tinha comido nada desde o café-da-manhã, e
passara o dia inteiro sentada em um cemitério conversando com sua falecida
filha e chorando, isso sim era um dia produtivo. Apesar de tudo, fora um dia
produtivo, conversar com Stella lhe fizera bem.
Ela abriu a porta, esperando pelo entregador de comida tailandesa, que
estava subindo de acordo com seu porteiro. Mas não foi ele quem Lua encontrou,
e sim Jim. Ela parou franzindo a testa.
- Jim, o que você está fazendo aqui?
- Eu vim te fazer companhia... O porteiro me disse para subir. Eu sei
que você disse que estaria estressada, mas eu não me importo.
- Bom, você não pensou que talvez eu quisesse ficar sozinha? – Ela
perguntou, irritada por Jim ter aparecido, ele podia pelo menos ter ligado
antes.
O entregador apareceu ali, e Lua o recebeu, ignorando a presença de Jim.
Perguntou-se se deveria fechar a porta, convidá-lo para entrar ou apenas
continuar encarando. Ela, inconscientemente, optou pela terceira opção, e ficou
parada segurando seu pedido, esperando que Jim dizer alguma coisa.
- Você andou chorando? – Ele perguntou, passando a mão pelo rosto de Luv
e ela se afastou na mesma hora – Eu posso entrar?
Lua não falou nada, apenas saiu da frente da porta, dando espaço para
que ele passasse. Quando Jim entrou, ela o seguiu, fechando a porta. Ela
sentou-se na mesa de jantar, que já estava com um copo e uma bebida em cima.
Porque estava com medo e porque simplesmente estava com muita fome, Lu começou
a jantar, ignorando Jim.
- Desculpa por aparecer assim – Ele falou, depois de uns cinco minutos
em silêncio – Eu não achei que você fosse ficar irritada... Pensei que fosse
ficar feliz em me ver. Mas, bom, se você quiser, eu posso ir embora.
- Não – Ela murmurou, então engoliu o que estava comendo – Desculpa,
Jim, não é sua culpa. Eu estou feliz em vê-lo sim – Lu segurou a mão de Jim,
com medo de falar algo errado – É só que hoje não é um bom dia, eu só queria
ficar sozinha.
- Você deveria ter me dito isso ontem de manhã então... – Ele murmurou –
Como foi seu dia hoje?
Lua congelou. O que ela poderia falar? Ela iria mentir de novo, inventar
uma programação qualquer? O conselho de Catherine soou em seu ouvido. Se ela
queria realmente ter um relacionamento sério com Jim, ela tinha que contar para
ele sobre seu passado. Mas como ela poderia contar? Ela nunca tivera que
explicar para ninguém o que aconteceu, todos que ela conhecia, acompanharam o
que ela passou.
- Foi um dia difícil – Ela optou por falar, esperando para ver se Jim
faria outra pergunta, mas quando ele permaneceu calado esperando que ela
continuasse, Lua suspirou continuou – Eu fui no cemitério.
- Por quê? – Jim parecia mais confuso do que nunca agora – Você me disse
que iria trabalhar... Isso não faz parte do seu trabalho, faz? Organizar
enterros? – Lua deu um pequeno risinho com a última frase, mas continuou séria.
- Não, eu fui visitar alguém – Ela continuou explicando – Eu menti para
você mais cedo, porque eu não queria ter que conversar sobre isso.
- É o seu marido, não é? Quer dizer, você usa essa aliança e tal. Eu sinto
muito, eu achava que você estava só se divorciando...
- Não, Jim – Ela o cortou – Não fui visitar meu marido. Eu me casei com
Thur há cinco anos atrás – Lu começou, avisando Jim com o olhar, que não era
para ele interrompê-la – Nós estávamos muito apaixonados um para o outro, a
banda estava fazendo sucesso e nossa vida era uma maravilha. Em pouco tempo, eu
engravidei e nós tivemos uma linda menininha, Stella. E nós éramos muito
felizes, Stella aprendia tudo muito rápido, e crescia rápido também. Às vezes,
Thur viajava para fazer shows em outros lugares, e eu ficava com Stella em
casa, mas quando nós nos reencontrávamos, nossa família parecia ainda mais
unida.
Lua sentiu a primeira lágrima escorrer, mas a limpou rapidamente. Não
era hora para chorar, ela já tinha esgotado sua cota de choro naquele dia. Jim
não falou anda, enquanto Lu tentava se recompor, ele parecia ainda absorver
toda informação que lhe fora jogada.
- Ano passado, - Lua continuou – Thur e os meninos saíram para uma turnê
na América. Eu e Stella o encontramos na Califórnia, para passarmos as férias.
Mais ou menos na terceira semana lá, Thur e Stella saíram para um passeio, eu
preferi não ir e ficar em casa – Contar seus planos para aquela noite para Jim
lhe pareceu inapropriado. Lua engoliu o choro e se preparou para contar – Eles
sofreram um acidente de carro. Thur ficou bem, mas... Stella não sobreviveu –
Nessa hora, as lágrimas realmente começaram a cair – Hoje faz um ano.
Jim não sabia o que falar, por isso apenas se aproximou de Lu e a
abraçou. Ela não fugiu do abraço, apenas continuou a chorar, até se acalmar,
então se ajeitou na cadeira e limpou o rosto. Como Jim ainda não tinha
pronunciado nenhuma palavra, Lua resolveu continuar a falar, enquanto ainda
tinha coragem.
- Nos primeiros meses, eu estava muito mal. Tentei me suicidar, eu
ignorava todo mundo, não deixava que me tocassem, ficava no quarto de Stella,
fingindo que ela ainda estava ali. Thur eventualmente acabou cansando de me
esperar. Eu não o culpo, ele estava sofrendo tanto quanto eu, e precisava de
mim, mas eu o afastei e o culpei pelo acidente. Ele foi embora fazer outros
shows e seguiu com a vida, então eu comecei a me tratar, me mudei, voltei a
trabalhar. Nós nunca nos divorciamos – Ela completou – Eu entendo se você não
quiser ficar comigo depois disso, Jim. Eu não devia ter escondido isso de você,
eu sei que não é fácil ficar com alguém que já tem toda essa bagagem...
- Ei, pare com isso – Ele falou – Estou aqui com você, Lu. Não vou dizer
que isso não me surpreendeu, e eu realmente não sei o que dizer. Eu sinto
muito, por sua filha e pelo seu marido também... Mas eu estou com você agora,
ok? Quando você precisar, eu estarei aqui, para enfrentarmos isso juntos. Eu te
amo, Lu.
Lua não respondeu, apenas o abraçou e o beijou. Não conseguia dizer que
amava Jim, talvez não o amasse ainda, nunca tinha parado para avaliar seus
sentimentos. Mas estava feliz por ele estar ali.
Em algum lugar perto dali, Thur bebia sua garrafa de vodka sozinho. Ele
segurava o copo com a mão direita, enquanto possuía uma foto na mão esquerda.
As lágrimas caíam enquanto ele via uma foto de família. Ele sentia tanta falta
de suas garotas. Ficou com raiva ao pensar que naquele momento Lua
provavelmente estava com seu novo namorado, por um momento cogitou rasgar a
foto, mas não conseguiu. Ele apenas guardou a foto no fundo da gaveta
novamente, limpando as lágrimas e bebendo mais um gole.
Ele pegou um telefone, cansado de ficar sozinho e ligou para o número de
uma mulher que tinha conhecido umas semanas antes. Se Lua podia ter companhia,
ele também podia.
Autora:Juuh
Aguiar
+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
ResponderExcluir