Capítulo Quatorze p.2
Lua andou em direção à cozinha, pegando um copo de água, como se
precisasse se ocupar com alguma coisa para não parecer tão fora de sintonia. O
que, claro, não adiantou muito, já que Thur continuava a olhando com o cenho
franzido, tentando entender o que se passava pela mente da mulher.
- Lu, o que houve? – Ele perguntou, seguindo-a, sem saber por que ela
estava agindo assim. Quando Lua o olhou sem entender, ele completou. – Você
está estranha. E não está agindo como se estivesse feliz. Você e Catherine
brigaram ou algo assim?
- Não, é claro que não. É só que... Eu sou a irmã mais velha, eu deveria
ter filhos antes dela. – Ela falou, sem saber como trazer o assunto à
tona.
- Mas você teve. – Ele disse, referindo-se a Stella e não entendendo o
que ela queria dizer.
Lua balançou a cabeça negando. Sim, ela teve. Mas Stella não contava
realmente, não é? Não mais. Naquele momento, Lua entendeu que Thur não tinha
pensando no assunto e provavelmente não iria gostar da ideia. Mas não tinha
mais jeito de voltar atrás agora, ela poderia encerrar o assunto por ali, mas
ela conhecia Arthur e sabia que ele traria de volta mais tarde.
- Eu sei, mas ultimamente eu estive pensando e... – Ela parou e Thur fez
sinal para que ela continuasse. – Você sabe que eu sempre quis ter filhos.
Agora que nós estamos juntos de novo, nós podíamos, não sei, tentar novamente
Arthur não respondeu nada, ainda absorvendo a informação. Lu também não
continuou a dizer, com medo do que ela acharia, naquele momento daria tudo para
poder ouvir os pensamentos de Thur. Talvez ela devesse ter esperado um pouco
mais, ter amadurecido a ideia.
- Há quanto tempo você vem pensando nisso? – Ele disse, finalmente.
- Algum tempo. – Ele respondeu, estranhando a pergunta. – Desde que
Oliver nasceu, acho, mas principalmente de um mês para cá, eu acho.
- Por que você não me disse nada? – Ele pareceu mais chateado do que
irritado. – Essa é uma decisão importante, Lu, não podemos decidir tão precipitadamente.
- Não é precipitado. Não estou dizendo para termos um bebê amanhã,
Arthur, só começarmos a pensar no assunto.
- Eu sei. Mas não acha que é cedo demais?
- Faz quase quatro anos! Quando vai parar de ser cedo, Arthur? Quantos
anos você acha que eu ainda tenho para ficar pensando sobre o assunto? Não
muitos. – Ela respondeu irritada, não sabia por que estava se estressando, mas
estava.
- Podemos pelo menos esperar alguns anos. Nós não estamos prontos para
isso.
- Eu estou pronta. Droga, Thur, eu estou pronta para ser mãe há uns dez
anos.
- Mas isso não foi o suficiente, não é?
Os dois ficaram calados por algum momento, apenas pensando no que Thur
tinha dito. Não, não fora o suficiente. Não importava se eles estavam prontos,
se eles queriam aquilo e podiam, no fim não foi o suficiente para manter Stella
viva.
- Não foi minha culpa Stella ter morrido. – Ela falou, quebrando o
silêncio e encarando Thur com raiva por ele ter trazido Stella para o assunto.
- Eu não disse que foi. Só quero dizer que não importa o que façamos,
nós não sabemos o que vai acontecer. Eu não quero passar por isso de novo.
- Por que nós perderíamos outro filho? O que aconteceu foi um acidente,
quais são as chances de acontecer de novo? – Ela falou, tentando fazer com que
Arthur entendesse. – Nós podemos ter outra chance, Thur. Você não gostaria de
poder fazer tudo mais uma vez? Só que dessa vez, ela faria quatro anos,
cinco... E continuaria crescendo.
As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Lua, enquanto ela pensava
em tudo que eles não tinham tido e que poderiam ter. Falar em Stella sempre a
deixava emocional, não importava quanto tempo tivesse passado.
- Mas nós não podemos voltar no tempo, Lu. Outro bebê não seria
Stella.
- Mas seria nosso filho. Pense nisso, Arthur. Não seria Stella, seria
outro bebê, mas ainda seríamos nós dois. Você sempre quis ter outros filhos, eu
também, por que não?
- Eu não quero mais. – Ele falou, encerrando o assunto e saindo em
direção à porta de casa.
- Você vai embora? De novo? – Ela reclamou, limpando as lágrimas do
rosto. – Todas as vezes que as coisas complicarem um pouco, você vai
simplesmente me deixar sozinha?
- Eu nunca te deixei sozinha. – Ele avisou, um pouco magoado com a
referência que ela fez. – Eu só vou sair para pensar um pouco. – E falando
isso, saiu de casa, batendo a porta.
Lua não falou mais nada, apenas deixou que ele fosse embora. Ótimo,
agora estava estressada. Era a primeira briga de verdade que eles tinham desde
que voltaram a morar juntos. É claro que já tinham brigado várias vezes antes,
mas nada muito sério.
Lua imediatamente se arrependeu do que tinha dito para Thur. Não deveria
ter falado de ele ir embora, não depois de assegurá-lo que tinha o perdoado e
sabendo como ele se sentia culpado. Não sabia realmente porque tinha dito
aquilo, odiava não conseguir pensar quando estava irritada. Esperava que Arthur
voltasse para casa logo e eles pudessem resolver tudo.
Não devia ter ficado tão na defensiva,
pensou, não era tão importante assim, afinal. Se Arthur queria esperar, ela
podia esperar, não podia? Por que sentia essa necessidade tão grande de ter
outro filho? Como se precisasse provar que podia ter um filho?
Talvez Arthur estivesse certo. Talvez ela realmente não estivesse preparada para ter outro filho. E como poderia estar? Verdade seja dita, a morte de Stella ainda a assombrava. Como poderia colocar todo esse peso em cima de outra criança? Ela poderia correr o risco de tentar substituir a perda de um filho com o outro. De fazer comparações. E isso a faria se sentir uma péssima mãe.
Por outro lado, talvez esse sentimento nunca passasse. E se ela continuasse pensando assim, iria acabar nunca tendo outro filho. E sempre pensaria “E se?”. Também não queria que isso acontecesse.
Cansada de se torturar com seus próprios pensamentos, Lu resolveu tomar um banho para ver se conseguia relaxar um pouco. Estava trabalhando demais, isso estava a estressando. Não devia ter descontado em Thur. Ele também não estava tendo uma semana muito fácil, ela provavelmente deveria ter esperado um pouco mais.
Mas também estava com aquilo preso e precisava contar. A culpa não era dela se Arthur reagira tão mal a sua proposta. Não era tão absurdo assim ter um bebê. Não era possível que em quase um ano que eles estavam juntos de novo, ele nunca tivesse pensado nessa possibilidade. Mas ele estava certo, esse era um passo importante, eles deveriam esperar para decidir juntos.
Talvez Arthur estivesse certo. Talvez ela realmente não estivesse preparada para ter outro filho. E como poderia estar? Verdade seja dita, a morte de Stella ainda a assombrava. Como poderia colocar todo esse peso em cima de outra criança? Ela poderia correr o risco de tentar substituir a perda de um filho com o outro. De fazer comparações. E isso a faria se sentir uma péssima mãe.
Por outro lado, talvez esse sentimento nunca passasse. E se ela continuasse pensando assim, iria acabar nunca tendo outro filho. E sempre pensaria “E se?”. Também não queria que isso acontecesse.
Cansada de se torturar com seus próprios pensamentos, Lu resolveu tomar um banho para ver se conseguia relaxar um pouco. Estava trabalhando demais, isso estava a estressando. Não devia ter descontado em Thur. Ele também não estava tendo uma semana muito fácil, ela provavelmente deveria ter esperado um pouco mais.
Mas também estava com aquilo preso e precisava contar. A culpa não era dela se Arthur reagira tão mal a sua proposta. Não era tão absurdo assim ter um bebê. Não era possível que em quase um ano que eles estavam juntos de novo, ele nunca tivesse pensado nessa possibilidade. Mas ele estava certo, esse era um passo importante, eles deveriam esperar para decidir juntos.
Ela saiu do banho, notando que Arthur ainda
não havia voltado. Aonde será que ele havia ido? Será que ela deveria começar a
ficar preocupada? Procurou-o pelo resto da casa, confirmando que ele realmente
não estava ali. Ligou para o celular dele, mas Thur não atendeu. Lu reparou que
começava a chuviscar lá fora, era só o que faltava. Esperava que Arthur pelo
menos tivesse levado um guarda-chuva.
Ainda estava de tarde, provavelmente Arthur só tinha ido encontrar com Chay ou Raffael. Lembrou-se de que tinha muito trabalho a fazer ainda e, enquanto ele não aparecia, era melhor ela adiantar alguma coisa.
Mais de uma hora depois, Lu tentava continuar trabalhando, mas não conseguia se concentrar. Arthur ainda não tinha voltado. Já estava há duas horas fora e já estava quase de noite. Lua tentou ligar para seu celular de novo, mas novamente ninguém atendeu. Preocupada, ela ligou para Chay, Raffael e Micael, mas nenhum deles tinha visto Thur desde que ele voltara para casa, mais cedo.
Lua pensou em sair para procurá-lo, mas não fazia a mínima ideia de onde ele poderia estar. Ela olhou pela janela e notou que ele havia levado o carro, o que basicamente significava que ele poderia ter ido para qualquer lugar. Tentou ligar mais uma vez para Arthur. A chuva aumentou.
Lu pensou em um lugar que Arthur poderia estar. Tinha uma grande chance que ele não estivesse, mas ela esperava que sim. Deixou um bilhete para o caso de Arthur voltar para casa antes dela, então pegou um guarda-chuva e chamou um táxi.
Ainda estava de tarde, provavelmente Arthur só tinha ido encontrar com Chay ou Raffael. Lembrou-se de que tinha muito trabalho a fazer ainda e, enquanto ele não aparecia, era melhor ela adiantar alguma coisa.
Mais de uma hora depois, Lu tentava continuar trabalhando, mas não conseguia se concentrar. Arthur ainda não tinha voltado. Já estava há duas horas fora e já estava quase de noite. Lua tentou ligar para seu celular de novo, mas novamente ninguém atendeu. Preocupada, ela ligou para Chay, Raffael e Micael, mas nenhum deles tinha visto Thur desde que ele voltara para casa, mais cedo.
Lua pensou em sair para procurá-lo, mas não fazia a mínima ideia de onde ele poderia estar. Ela olhou pela janela e notou que ele havia levado o carro, o que basicamente significava que ele poderia ter ido para qualquer lugar. Tentou ligar mais uma vez para Arthur. A chuva aumentou.
Lu pensou em um lugar que Arthur poderia estar. Tinha uma grande chance que ele não estivesse, mas ela esperava que sim. Deixou um bilhete para o caso de Arthur voltar para casa antes dela, então pegou um guarda-chuva e chamou um táxi.
A chuva tinha diminuído um pouco quando Lua finalmente avistou o
cemitério. Tinham apenas alguns carros estacionados e, felizmente, ela
conseguiu destacar o carro de Thur entre eles. Ela saltou do carro e correu até
a lápide de Stella, onde tinha certeza que o encontraria. De longe, ela o viu
parado, em meio aos pingos de chuva. Revirou os olhos, pensando que ele
provavelmente ficaria resfriado depois.
Ela andou calmamente até ele, parando ao seu lado e protegendo-o da
chuva com seu guarda-chuva. Ele pareceu não perceber sua presença por alguns
segundos e então virou-se assustado, como se tivesse sido encontrado fazendo
alguma coisa errada.
- Lu? – Ele perguntou, tendo que falar alto para que ela o ouvisse.
- Você está bem? – Thur apenas assentiu, ela não podia ver suas lágrimas
misturadas com as gotas de chuva.
Arthur pegou a mão de Lu e andou até o carro, sem dizer mais nenhuma
palavra. Ele sabia que ela estava irritada por ele ter sumido, mas estava feliz
que ele estiva bem. Ele sabia que deveria ter atendido seus telefonemas, mas
precisava realmente de um tempo para pensar. Ele tinha sim pensado em ter
outros filhos, algumas raras vezes, sempre descartara essa oportunidade, porém.
Arthur tinha conseguido, depois de muito esforço, perdoar-se um pouco pela
morte da filha; mas continuava ali, apesar de tudo, o medo, as inseguranças. Se
eles tivessem outro bebê e acontecesse alguma coisa? Como ele conseguiria se
perdoar dessa vez? E se, afinal, tivesse realmente sido culpa dele?
Lu estava certa, ele queria ter outros filhos, sempre quisera. Mas tinha
tanto medo. E se ele voltasse a beber? E se, e se. Ele sabia que se continuasse
a questionar tudo o que poderia acontecer, ele acabaria não vivendo.
E se eles tivessem um filho e desse tudo certo? Eles estavam tão
felizes, tudo estava tão perfeito entre ele e Lu, o que poderia dar errado? Um
raio não cai duas vezes no mesmo lugar, era o que sempre diziam. Eles já haviam
sofrido demais nessa vida, será que ele não podia simplesmente dar uma chance a
si mesmo de ser feliz? Mais do que isso, não podia dar uma chance à Lu?
Ele havia abandonado-a uma vez e prometera a si mesmo que nunca faria
isso novamente. Eles estavam juntos e se Lu queria ter outro filho, se ela
estava pronta para embarcar nessa vida novamente, então ele iria com ela.
- Me desculpa. – Lu falou quando eles chegaram ao carro. – Eu não devia
ter reagido tão mal. Você está certo, Thur, nós deveríamos esperar.
Arthur arregalou os olhos ao ouvir isso. Depois de todo o drama interno
que tinha tido, ela simplesmente aceitava e dizia que eles deveriam esperar?
Ela só podia estar brincando! Arthur quase riu; ele deveria ter imaginado que
Lua faria uma coisa desse tipo.
- Engraçado, porque eu ia dizer que achava que nós devíamos tentar. –
Ele comentou.
Lua não respondeu nada, parecendo arrependida ter falado antes. Apenas o
encarou, como se perguntasse se ele estava falando a verdade mesmo.
- Você tem certeza?
- Tenho. Vai dar tudo certo dessa vez, Lu, nós vamos ter outro bebê e
vai ser a melhor fase da nossa vida. – Ele falou com tanta certeza, que Lua
ficou até surpresa.
Apenas sorriu para ele, tentando deixar de lado suas próprias
inseguranças. Tudo ia dar certo dessa vez, Arthur estava certo. Eles estavam
tão felizes, por que daria alguma coisa errada? Ela o beijou e Thur dirigiu até
a casa novamente.
Ao chegarem, Lua entrou na casa e Thur ficou para trás, para fazer
alguma coisa. Ele apenas pegou um saco plástico, que continha suas compras de
algumas horas atrás, e jogou-o na lata de lixo. Hesitou por apenas um segundo.
Só ele sabia o quão próximo estivera de beber aquela garrafa, apenas parara por
alguns minutos no cemitério para pensar um pouco mais sobre suas próprias
decisões e, então, Lua chegara. Alguns minutos a mais e o que iria para o lixo
era sua reabilitação.
Seria a melhor época de suas vidas, ele repetiu para si mesmo, não tinha
com o que se preocupar. Estavam prontos.
Dezembro,
2009
Lua encarava a tira que marcava duas listras sem saber como reagir.
Sentiu uma solitária lágrima escorrer pelo seu rosto. Pela primeira vez em
muito tempo, chorava de felicidade. Seu teste de gravidez dera positivo! Depois
dos últimos três meses sem nenhum sucesso, ela tinha vontade de contar para
Deus e o mundo. Ao invés disso, apenas saiu do banheiro, levando o teste
consigo e encontrou Thur esperando-a ansiosamente, sentado na cama. Ela apenas sorriu,
levantando o resultado.
Arthur entendeu na mesma hora, pulando da cama e abraçando a mulher.
Agora era oficial, não tinha mais como negar, eles teriam outro bebê.
É claro que ambos ainda tinham suas inseguranças, mas tinham nove meses
para se preparar. Era tempo o suficiente, diziam para si mesmos. Eles pensaram
bastante sobre o assunto, pensaram em parar de tentar cada vez que a
menstruação de Lua chegava, mas decidiram que continuariam tentando.
Eles continuariam a construir uma família. E, finalmente, aquela
sensação de que falta algo, desapareceria. Pelo menos, era o que esperavam.
O ano estava acabando e eles começariam o próximo completamente
renovados. Quatro anos antes, Lua planejara começar o ano seguinte com uma nova
gravidez. Planejara ter um segundo filho e comemorar com Thur e com Stella. Ela
pensara em como contaria para Stella, como seria, se levaria a filha para ir à
consulta do médico com ela, se Stella opinaria sobre o nome do bebê.
Mas era apenas ela e Thur novamente. Passando por uma gravidez mais uma
vez. Jantando para comemorar. De alguma forma, lembrar de tudo isso, fez com
que Lu ficasse triste. Ela tinha que deixar esses pensamentos de lado. Eles
iriam ter outro filho, ela teria mais responsabilidades como mãe, não podia
deixar que simples memórias a abalassem tanto.
Percebendo a mudança na feição de Lu, Arthur a apertou em um abraço. Ele
sabia que, com um novo bebê, a lembrança de Stella ficaria cada vez mais forte,
cada vez que repetissem alguma coisa que já tivessem feito com a filha, eles se
lembrariam dela. E eles teriam que ser fortes para passar por isso.
- Nós vamos conseguir. Nós vamos mesmo fazer isso. – Ele falou, beijando
o topo da cabeça de Lua. – Tudo vai se ajeitar agora.
Creditos: Juuh Aguiar
Aww tão feliz por eles! Me apeguei demais a essa fic! Posta mais!
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