Capítulo Treze p.2 (CAP 2/2)
Lua não falou nada quando Thur simplesmente saiu para tomar banho, ele
precisava de um tempo para absorver as informações. E ela também.
Talvez não devesse ter dito nada daquilo, falando como se entendesse
alguma coisa. Talvez Thur realmente não tivesse tido tempo de rearrumar a casa
ou simplesmente não quisesse, só porque para ela aquilo significava uma coisa,
para ele podia ser diferente. Ela estava passando dos limites. Aquele deveria
ter sido um dia para eles ficarem juntos e, veja só, ela conseguira machucar
Thur e eles estavam separados agora.
Sentiu as lágrimas brotando em seus olhos e dessa vez não sabia por que
exatamente. Era uma mistura de raiva, irritação, tristeza e arrependimento.
Quis socar um travesseiro, mas se sentiu estúpida apenas por ter esse
pensamento, então levantou-se da cama e resolveu sair daquele quarto. O
problema era aquela casa, pensou para si mesma, trazia muitas energias
negativas.
Sem parar para pensar, acabou indo parar no quarto de Stella. Era automático,
pensou. Fizera aquele caminho tantas vezes enquanto morara naquela casa, que
não sabia mais como desviar. Acusara Thur de não ter mudado a casa, mas ela
também não teria feito nada se não tivesse se mudado. Era uma hipócrita, isso
sim. Irritada consigo mesma, elas deixou que as lágrimas caíssem por alguns
segundos, então limpou seu rosto, determinada a parar de chorar, e ficou apenas
observando o quarto vazio.
Lu iria começar a falar, mas percebeu que Thur ainda não tinha
terminado. Ele olhou para ela e pegou sua mão, como se apenas para confirmar
seu agradecimento.
- Mas essa casa também é sua. – Ele completou. – Nós vamos mudar juntos,
Lu.
Ela ia responder que não morava mais lá, mas entendeu o que Arthur quis
dizer. Ele queria que ela voltasse para lá. Queria que ela voltasse para casa.
E ela também queria, percebeu, no fundo, aquele apartamento era apenas
temporário porque, por mais que aquela casa a enchesse de lembranças que ela
preferia esquecer e a desse arrepios algumas vezes, ainda era seu lar e ela
pertencia à ali. Assentiu e se aproximou de Thur para beijá-lo.
Dezembro, 2008
Lua parou em frente ao quarto que fora de Stella. O quarto estava
completamente vazio agora, mais do que antes, mas Lu preferia assim. As paredes
haviam sido pintadas de creme e a cama, armário e estante haviam sido levados
embora. Como a tinta ainda estava fresca, não tinha nenhum móvel. Ela e Arthur
pretendiam fazer um escritório ali. Um lugar para que os dois pudessem
trabalhar, mexer no computador ou ler um livro em paz, um lugar que não
lembrasse, de modo algum, Stella.
Lu só tinha se mudado há algumas semanas para casa e ainda estava se
acostumando. Alguns de seus móveis continuavam no apartamento antigo e ela
ainda estava cancelando o aluguel, mas já não morava lá e se sentia bem com
isso.
Ao sair do quarto, fechando a porta para o cheiro de tinta não se
espalhar, esbarrou em Thur. Ele estivera parado ali, apenas observando Lu olhar
o cômodo. Sentia como se tivesse alguma coisa errada com o quarto. Mas um
errado bom, na medida do possível.
- É estranho, não é? – Lua comentou, trancando a porta e se afastando do
quarto. – Transformar o quarto de Stella em um ambiente tão impessoal. –
Completou.
Arthur apenas assentiu. Era melhor assim, apesar de estranho. Com o tempo
talvez pudessem usar o escritório sem se lembrar do que já havia sido. Pelo
menos, era o que ele esperava.
- Vamos. – Chamou, tocando Lu no braço para que ela prestasse atenção e,
então, desceu as escadas.
Lua concordou, olhando para trás uma última vez, apenas para verificar
se o quarto continuava do jeito que tinha deixado. Surpreendia-se com sua
capacidade de acreditar que um dia iria virar e encontrar tudo diferente. Ou
igual, pensou rapidamente, dependendo do ponto de vista.
Passando pelo andar de baixo, Lu parou um pouco para observar a árvore
de Natal que ela e Thur tinham montado alguns dias antes. Era uma árvore
bonita, cheia de enfeites dos mais variados tipos. Lu se sentiu triste, ao
imaginar que ela nem seria utilizada naquele ano, já que eles haviam decidido
passar o Natal na casa dos pais de Arthur. Sem Stella ali, entretanto, o Natal
seria muito vazio só com eles dois.
Eles viajariam para a casa dos Aguiar já naquele final de semana,
portanto, naquele dia Thur queria levá-la para sair. Principalmente, lembrou
Lu, considerando que naquele dia faria oito anos desde que Arthur a pedira em
casamento. Ela ponderou se ele lembrava, provavelmente sim, ele tinha uma ótima
memória.
O que só se confirmou quando eles entraram no carro e Arthur dirigiu até
a London Eye. Lua não conseguiu deixar de sorrir, fazia tempo que não ia até
lá, estava mesmo pensando ir novamente e não havia nenhum dia melhor para isso,
para comemorar.
Oito anos, quem diria que já tinha passado tanto tempo. Quem diria que
tinha passado tão pouco tempo. Parecia que uma vida inteira tinha sido vivida
nesse intervalo e, entretanto, nada havia mudado. Continuava sendo eles dois.
No mesmo dia, no mesmo lugar, com as mesmas sensações.
Não, ela pensou. Os sentimentos continuavam os mesmos, a maior parte,
pelo menos, mas as sensações eram diferentes. Eles estavam diferentes, aqueles
anos haviam tido muito mais peso do que eles gostariam. Era impossível dizer
que continuavam sendo as mesmas pessoas que andaram na roda-gigante exatamente
oito anos antes.
- O que estamos fazendo aqui? – Lua perguntou, deixando com que os
pensamentos se transformassem em palavras.
- Eu gosto daqui. – Arthur completou, sorrindo e segurando a mão de Lu.
– Me traz boas lembranças.
Porque era verdade, Lu não disse mais nada até estarem dentro da cabine.
E até depois, na verdade, porque ficou apenas olhando a vista encantada. Era
reconfortante como certos lugares nunca perdem o encanto, não importa quantas
vezes você vá, parece sempre que é a primeira vez.
Quando estavam no topo da roda-gigante, Lu olhou para Thur sorrindo,
lembrando-se de que fora mais ou menos naquela hora que ele a pedira em
casamento. Como se lesse sua mente, Thur falou:
- Lu, preciso de falar uma coisa.
- Você vai me pedir em casamento de novo? – Ela brincou, rindo com a
possibilidade.
- Na verdade, quase isso. – Disse, fazendo com que ela franzisse a
testa, então tirou um pequeno saquinho do bolso. – Bem, eu não tinha mais a
caixa original, mas acho que isso vai servir. – E tirou um anel do saquinho.
Não um anel qualquer, ele tirou a aliança de casamento de Lu. – Eu acho que
isso pertence a você.
Ela não respondeu. Não conseguiu. Ficou olhando abismada para a pequena
aliança que Thur segurava, esperando que ela a pegasse. Imediatamente, segurou
sua própria mão, como se duvidasse que sua aliança não estivesse ali.
Lembrou-se então que deixara, com lágrimas nos olhos, sua aliança em casa,
alguns meses antes. Dava graças a Deus por Thur tê-la guardado.
Ainda um pouco em choque, ela tentou pegar o anel, mas antes que
pudesse, Thur pegou sua mão e colocou a aliança de volta no dedo certo,
repetindo o mesmo gesto que fizera em seu casamento. Sem encontrar palavras,
Lua apenas puxou Thur para perto e o beijou.
Creditos: Juuh Aguiar
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