15 de mar. de 2013

{FIC} Little Star (Adaptada)


Capítulo Quinze p.4

Eles não se falaram novamente até o final de semana. De vez em quando, Thur a olhava significantemente, mas ela apenas desviava o olhar, fingindo não perceber. Lua continuava sem saber se deveria ir na festa de Raffael e Jenny ou não. Em parte, queria ir, porque adorava os dois e estava realmente feliz por eles, gostaria de rever seus amigos; mas não conseguiria estar feliz de verdade, então qual era o objetivo de ir? Estragar a festa com sua tristeza contagiante? 
Ela estava falando a verdade quando disse a Thur que tinha trabalho para fazer. O fato de seus clientes terem cancelado em cima da hora, não mudava isso. Ela ainda tinha muito o que resolver, não tinha tempo para ficar indo fazer nada em uma festa. 
Imaginava se Arthur ficaria irritado, ele parecia determinado em fazê-la ir naquele dia. Lua não conseguia descobrir porque, não era, nem de perto, o primeiro evento que ela deixava de ir. Ele sabia como ela estava, por que tanta insitência, então? Logo quando Lua estava decidida que eles tinham realmente se afastado, Thur a surpreendia. Não fazia diferença, dizia a si mesma, tudo continuava igual.
- Você não vem mesmo? – Thur perguntou, encontrando Lua trabalhando em seu laptop no escritório.
- Eu tenho muito o que fazer – Ela respondeu simplesmente, sem nem ao menos desviar o olhar do que estava fazendo.
Arthur pareceu decepcionado, como se sua última gota de esperança tivesse secado. Lua, porém, não viu isso. Ele se retirou do cômodo, indo embora de casa sem nem parar para insistir. Ele havia tentado.
Ele tinha a dado espaço. Ele tinha tentado fazer com que ela voltasse. Mas ela não queria. Não era como antes, Lua não estava em uma depressão profunda: ela simplesmente se negava a agir normalmente. Ela não queria ajuda, e Thur não iria obrigá-la a ser ajudada. Ele continuaria vivendo sua vida e quando ela percebesse que estava perdendo sua vida, ela poderia se juntar a ele.
Tinham se passado apenas alguns minutos desde Thur saíra, mas Lua se mexia inquieta na cadeira. Talvez ela devesse ter ido. Talvez ela devesse ter dado uma chance. Talvez ela devesse parar de ficar pensando tantos “talvez”. Sem conseguir continuar com o trabalho, ela fechou o computador e saiu de casa.
Não tinha nenhum rumo específico. Já estava de noite e o sol já havia se posto quase completamente. Lua imaginou para onde para poderia ir, todos seus amigos estavam na festa. É claro, ela poderia ir até lá, mas com que cara iria aparecer? Thur provavelmente já inventara uma desculpa para Jenny e Raffael, ela só estragaria tudo aparecendo no meio do nada.
Ela já estava andando há quase quinze minutos e estava começando a ficar com bastante frio, então resolveu dar a volta no quarteirão, voltando para sua casa. Tinha pensado que talvez refrescando a mente, ela se sentiria melhor. Mas só se sentia pior ainda. Por que estava errando tanto ultimamente?
- Lua? – Alguém a chamou, fazendo com que ela parasse de andar imediatamente.

Ela conhecia aquela voz, não esperava ouvi-la nunca mais. Ou pelo menos tão cedo. Não que realmente pudesse chamar de cedo, já que não ouvia por quase dois anos. 
- Jim? Olá! O que está fazendo aqui? – Ela se aproximou para cumprimentá-lo, tentando parecer o mais normal possível – Achei que você estivesse morando em Manchester.
- Eu estou, só vim aqui para visitar a família de Amelie – Ele disse, apontando em direção a mulher que estava o acompanhando, cuja presença Lu nem ao menos tinha reparado – Amelie, essa é Lua. Lu, essa é Amelie, minha noiva – Em resposta à cara de surpresa de Lua, ele completou: - Nós vamos nos casar no final do ano.
- Você vai se casar? – Ela abriu um sorriso – Que ótimo, parabéns! 
- E você, Lu, como está?
Como ela estava? Ela estava andando sozinha pelo meio da rua, quase às oito horas da noite, sem rumo. Seu marido provavelmente estava irritado com ela, sozinho em uma festa e possivelmente triste. Ela havia perdido um bebê e não conseguia parar de se culpar por isso, mas não conseguia admitir isso para ninguém. Não conseguia nem ao menos conversar com Arthur. Sua irmã estava feliz e com um bebê recém-nascido, sua melhor amiga tinha dois filhos lindos e saudáveis, e agora Jenny e Raffael estavam casando e sendo felizes também. Todos estavam acertando na vida, menos ela.
É, sua vida realmente não poderia ser melhor.
- Eu estou bem. Levando a vida – Se pelo menos isso fosse verdade, pensou, mas apenas sorriu.
- E Arthur, como ele está?
- Bem também. Em uma festa – Ela disse.

Notou que Amelie a olhava com uma cara de “seu marido está em uma festa e você está sozinha andando pela rua?”, mas talvez fosse apenas sua imaginação. Depois disso eles se despediram e cada um seguiu seu caminho.
Jim também estava feliz. Acresceu isso na lista de conhecidos que estavam em uma situação melhor que ela. Era mais fácil simplesmente adicionar todo mundo que ela conhecia. Estava sendo invejosa. Não era culpa de ninguém, além dela mesma, se ela não conseguia ser feliz. A culpa era dela se não conseguia ter um filho. 
Então por que Arthur é quem estava sendo punido? Ela estava sendo ridícula e infantil não deixando-o se aproximar. Arthur estava só tentando ajudar, como sempre estivera. Ela precisava consertar tudo. Mas como? Ela estragava qualquer coisa que tocasse.
Ainda pensando, ela fez o caminho de volta para casa.

Arthur estava cansado. A maioria daquelas pessoas eram suas amigas, mas ele não estava se divertindo, nem um pouco. Não conseguia parar de pensar em Lua. E se ele nào tivesse tentado o suficiente? E se, por sua causa, Lua voltasse a ficar em depressão. Talvez tivesse sido culpa sua o aborto, assim como havia sido sua culpa a morte de Stella. 
Ele havia dito que não abandonaria, mas será que era muito melhor só se afastar e esperar? Isso não era, de certa forma, um abandono também? É claro que, se fosse assim, poderia dizer que Lua tinha o abandonado também, mas mesmo que ela tivesse, isso não era motivo para ele fazer o mesmo.
Não, ele não iria abandoná-la. Mas com certeza o jeito com que estava lidando com tudo isso estava errado. Provavelmente. Ele não sabia, sua cabeça estava doendo. Ele só queria arranjar um jeito de fazer com que tudo desaparecesse. Queria ter um jeito de, pelo menos por algum tempo, esquecer os problemas.
Quase sem pensar, ele foi em direção ao bar, sentando-se e pedindo qualquer coisa para o barman. Ele sabia que não deveria beber, ainda estava sóbrio. Mas não por muito tempo. Já estava com a bebida na mão, ponderando as consequências de seu ato, quando sentiu alguém se aproximar por trás dele, tirando a bebida de sua mão.
- Ouvi dizer que não é bom beber durante a reabilitação – Lua falou, citando o que ele tinha dito a ela no casamento de Micael e Catherine.
- Lu? O que você está fazendo aqui? – Ele perguntou, um pouco envergonhado por quase ter sido pego bebendo.
- Eu vim acompanhar você – Ela disse, sentando-se ao seu lado e bebendo um gole da taça que tinha tirado da mão do marido – Nós vamos superar isso, Thur. Juntos, como sempre fizemos.
Ela apertou a mão dele, aproximando-se de Arthur e o abraçando. Não chorou. Era hora de amadurecer e enfrentar o destino. 

Creditos: Juuh Aguiar

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