5 de abr. de 2013

Viciante Amor





Uma luz negra invadiu minha visão em cheio.
Uma dor incrivelmente forte estava deixando-me incapaz de mover qualquer músculo – até o tentar ‘piscar’ dos olhos queimavam. Aquela falta de luz estava me incomodando de uma forma bruta, fazendo-me lacrimejar.
Onde eu estava? O que havia acontecido para encontrar-me naquele estado?
Escuridão.

FLASHBACK
- Pára de encher, Lu. Eu sei o que eu ‘to fazendo! – ele protestava, mas eu sabia que ele estava errado. Misturas de álcool e drogas nunca davam certo. Permaneci em silêncio, um pouco desconfortável, e acendi um Benson&Hedges de menta (meu cigarro favorito), enquanto Thur começava a acender seu cigarro de maconha.
Dei a primeira tragada ao mesmo tempo em que Thur dava a sua. Seu rosto estava sereno e a íris de seus olhos brilhavam.
Foi por causa desse maldito encantamento que sinto por ele que comecei a me envolver com coisas nas quais nunca me imaginei.
Analisei todo o seu rosto e suas marcas de expressão; apesar das olheiras ele continuava com uma beleza divina. O jeito em que ele fechava os olhos para tragar o baseado o deixava mais divino ainda – irônico, eu sei. Dei mais uma tragada e sorri involuntariamente.
- Por que o riso? – ele perguntou, deixando-me assustada com a pergunta repentina. Traguei com toda a força o cigarro que estava em minha mão e senti minha garganta queimar e meus olhos lacrimejarem, jogando-o no chão. Mais uma coisa que nunca imaginei fazer: ficar sentada, de madrugada, em algum beco, para fumar. – Não vai me responder? – levantei-me e comecei a andar. Estava na hora de voltar para casa. 
Pude escutar um riso abafado logo atrás de mim, até que ele apareceu ao meu lado e ficou a me encarar.
- Pode me deixar em casa? – perguntei sem humor. Ele virou os olhos e bufou.
- Já disse que você deveria dormir na minha casa, já que você tem aula amanhã. – encarou seu relógio, corrigindo-se: - já que hoje você tem aula.
- Sabe que não posso. – disse calmamente. Eu, provavelmente, já estaria em apuros chegando em casa chapada, ainda mais não chegando em casa. 
- Então vá à merda. – efeito do álcool, Lua. Apenas efeito do álcool com a maconha. Respirei fundo e continuei andando, afinal, eram apenas duas quadras até minha casa.
- Boa noite. – respondi e não obtive resposta. Também não escutei mais seus passos. Será que ele havia desmaiado? Não seria a primeira vez. Por que eu ainda me preocupava? Um viciado não se importava nem um pouco com o que eu sentia – talvez seja por isso que ele nunca tenha percebido minha fascinação por ele. – Cadê v... – assim que comecei a falar, fui virando-me para trás, mas fui interrompida por sua imagem à minha frente. Ele sorriu de um jeito maroto e bagunçado – devido às misturas – com o susto que eu havia tomado e segurou-me pela cintura, deixando-nos muito próximos. Estremeci e ele pareceu notar, sorrindo fraco.
- O que você quer? – tentei não falhar ao falar, mas minha voz saiu extremamente baixa, entregando meu desconforto com nossa aproximação repentina. Ele riu baixo e encostou nossos narizes, o que me fez fechar os olhos automaticamente. Sentir o seu perfume misturado com cheiro de álcool foi algo extremamente diferente e adorável. Mesmo com o cheiro da erva que seu corpo continha, meu olfato parecia apenas apreciar seu perfume e me deixar cada vez mais extasiada. Perdi-me com o tempo que fiquei sentindo seu perfume com os olhos fechados, até senti-lo sussurrar bem perto dos meus lábios:
- Você. – e antes que eu pudesse entender o que aquilo queria dizer, senti seus lábios encostarem-se aos meus e sua língua pedir passagem para encontrar-se com a minha, o que cedi facilmente.
Assim que nossas línguas se chocaram, senti um choque elétrico percorrer todo o meu corpo. Coloquei minhas mãos envoltas de seu pescoço e ele sorriu meigamente entre o beijo. O gosto do meu cigarro de menta e do álcool que vinha da boca dele transformou-se em um sabor diferente, e que eu gostei muito. Ficamos assim por alguns minutos e então ele me cedeu sua mão direita, acompanhando-me até em casa.
A provável discussão que teria com minha mãe nem ao menos me abalaria depois daquela madrugada. Nada me abalaria.
END FLASHBACK

Tentar abrir meus olhos foi a coisa mais dolorosa que já havia sentido. Sentia-me incapacitada de fazer qualquer movimento. As trevas era tudo o que eu via. Eu estava imóvel. 
O que diabos estava acontecendo comigo?
Tentar mexer qualquer músculo deixava-me quase desacordada – se é que eu poderia me considerar acordada. 
- E quando os efeitos da anestesia vão passar? – escutei uma voz ao fundo, mas não consegui identificar de quem era. Uma voz feminina, talvez, mas estava muito distante. Parecia estar em outra dimensão. – Passaram? Mas como... – a voz foi se apagando lentamente e minha consciência ia se apagando junto. Aquela voz... Mamãe
Forcei-me a me manter consciente, mas aquela voz havia sumido. Eu queria gritar, mas de repente minha garganta parecia queimar, ao mesmo tempo em que minha boca parecia estar seca. Dor.
Um aparelho começou a apitar incontrolavelmente alto, deixando-me quase surda. Tentei gemer para que aquilo parasse, mas apenas me causou mais dor.
Lua? – uma voz masculina que parecia estar perto falou. – Lua? – chamou novamente.
Thur. Era ele. Esforcei-me ao máximo para falar, mas nenhum som permitiu-se ser pronunciado. Minha garganta pareceu pegar fogo e o aparelho apitava mais alto. – Lu, diz que você ‘ta aí, pelo amor de Deus! – sua voz era desesperada, mas ao mesmo tempo me parecia estar tão distante... – me responde! – parecia gritar, mas cada vez estava mais afastada... Apenas um eco. Aquilo estava me deixando sufocada. Eu precisava responder, mas não conseguia.
A dor que se passava em mim era insuportável e a vontade de mostrar que eu estava ali, mesmo que não o tempo inteiro, me deixava cada vez mais nervosa. Eu parecia estar tão perto e às vezes tão distante...
A voz sumiu e a escuridão voltou.

FLASHBACK
Odiava ter que estudar naquela escola, mas estava feliz por ser o meu último ano – finalmente acabaria.
Estava sentada em uma árvore um pouco afastada do pátio, enquanto os outros alunos perambulavam pela hora do intervalo. Eu não ligava para quem eles eram ou pelo o quê eles fariam, não me importava com eles nem com a amizade deles. Sentia-me bem o suficiente para não precisar disso.
Antes de conhecer o Thur (o que eu gostei muito de ter acontecido), eu era a aluna mais nerd e mais estranha da sala. Sempre fui a aluna perfeita aos olhos de todos os professores e de todas as pessoas. 
Minha mãe sempre teve orgulho da filha que tinha, sempre fui perfeita. Mudei-me para Londres e tudo isso começou a mudar. Minha escola era igual a todas as outras e eu continuava a mesma, até me apaixonar perdidamente por um garoto de uma série acima da minha: Thur. Ele era completamente punk e diferente... Atraí-me perdidamente por ele e depois disso, quase dois anos depois, envolvi-me com ele e suas amizades, transformando-me no que sou agora. 
Minha mãe já havia desistido de tentar entender o que aconteceu comigo, mas eu estava feliz assim. Finalmente estava saindo dos padrões e conseguindo conquistar o coração do Thur. Depois daquele beijo, muitos outros aconteceram, e isso me deixava extremamente feliz – apesar de não termos nenhum compromisso. 
- Pensando na vida, linda? – senti aquele perfume perto do meu pescoço e estremeci. Como ele havia entrado na escola? Ele já havia terminado há um ano e alguns muitos meses. Não pensei em como isso poderia ter acontecido quando o senti beijar meu pescoço e dar uma leve mordida, fazendo me arfar e sorrir. 
- Em você. – ele também sorriu e então prossegui: - como conseguiu entrar aqui, Thur? – juntei as sobrancelhas em sinal de dúvida e ele revirou os olhos. Sempre me ignorando.
- Não importa. – puxou-me pela mão, levantando-me do chão e sorrindo. – Vamos, vamos sair daqui. – ele disse e eu iria pará-lo, mas ele me beijou e esqueci o que pretendia fazer ou o que pretendia falar, ficando meio desnorteada. Ele riu e me guiou até a parte dos fundos da escola, desviando-se dos inspetores e alunos que possivelmente nos entregariam. Não sabia para onde ele estava me levando, mas o seguiria. Caminhamos até um portão – que se encontrava trancado – e um muro baixo. – Sabe pular muros? – perguntou com um sorriso sapeca.
- Não que eu saiba... – respondi rindo do mesmo jeito que ele, e o vi tirar uma mochila de uns arbustos e a jogar do outro lado. – Vai na frente, mocinha. – ele disse rindo e me dando impulso para que eu passasse.
- Onde estamos indo? Algum lugar em especial? – perguntei curiosa, pulando o muro e o esperando fazer o mesmo.
- Na verdade não... Só te tirar de lá. – ele riu e seguimos andando. Ele pegou a mochila que estava nos arbustos e colocou nas costas.
Caminhamos durante alguns minutos até chegarmos a uma rua deserta – o que não faltava no bairro abandonado em que morávamos. 
- Vamos sentar aqui... – ele disse já se abaixando, sem esperar que eu respondesse (responderia com um sim, é claro).
- E por que me fez matar aula? – arqueei uma sobrancelha e ela fez o mesmo, parecendo me desafiar. Ri sem humor.
- Porque você prefere ficar comigo. – disse seguro de si e então eu bufei. Ficamos olhando o nada e eu fiquei pensando na vida. – O que está fazendo? – ele perguntou com as sobrancelhas juntas.
- Tirando o tênis. Odeio ter que usar isso. – sorri ao finalizar de tirar minhas Adidas e ficar descalça. Sentia-me livre. 
- O que é isso no seu calcanhar? – perguntou com um semblante curioso. Gargalhei ao notar do que ele falava.
- Minha tatuagem, ora. – respondi rindo.
- Isso eu sei. – fez cara de óbvio. – Mas por que a sua tatuagem é de um tubarão pegando onda em uma prancha? – ele ficou encarando meu calcanhar e então coloquei meu pé em cima de seu colo, deixando-o com a visão melhor e gargalhei do semblante horrível que ele fez.
- Porque estava na moda e eu queria uma tatuagem diferente de todas que eu já tinha visto. Minha mãe deixou, porque naquela época eu era boa moça e eu escolhi um tubarão... – ri com a memória e completei: - acho que foi na sétima série.
- Sua mãe te achava uma boa moça? – deu ênfase no verbo no passado.
- Não posso dizer que ela me ache um exemplo de filha agora, certo? – arqueei uma sobrancelha e ele encarou a rua. Sempre ficávamos assim, sem nos falar. E isso era extremamente normal e bom, nem um pouco incômodo, apesar de eu preferir que ele continuasse falando e me respondendo.
Thur abriu a mochila que carregava tirando de lá uma garrafa de Vodka e dois copos. Sorri.
- Aceita? – perguntou, já enchendo os copos até em cima. Um viciado, isso o que ele era. Peguei o copo de sua mão e bebi de uma vez, fazendo minha garganta queimar e meu olho lacrimejar. Aquilo era bom, mas eu precisava de um cigarro.
- Tem cigarro? – perguntei e ele sorriu de um jeito sombrio.
- Tenho algo bem melhor que cigarro. – encarei sua expressão com medo do que pudesse vir. Mas era o Thur e dele poderia ser qualquer coisa. 
- E isso seria...? – incentivei-o.
- LSD. – ele respondeu calmamente, tirando algumas pílulas da bolsa e as colocando na boca, logo após bebendo o copo de Vodka. Uma mistura perigosa, eu diria. – Aceita? – ele ofereceu. Claro que não! Eu nunca havia usado drogas antes, mesmo ele sempre usando e me oferecendo. Mas ele parecia estar tão distante... Se eu aceitasse poderia me aproximar mais... Quem sabe sairmos daquele ‘rolo’ que tínhamos?
- Aceito. – respondi com certo medo e ele deu um sorriso de canto. Tirou da bolsa uma pílula e encheu o copo mais uma vez, ensinando-me como usar. Com um medo horrível coloquei a pílula em minha boca, mas antes que eu pudesse consumi-la Thur me parou.
- Acho melhor você colocar embaixo da língua e esperar ela se desfazer. – ele sorriu.
- Por quê? – eu realmente não entendia nada sobre isso. Era só esperar o efeito e depois espera-lo passar. Era só isso. 
- Porque o LSD é um pouco forte, pra quem acaba de começar... – ele pareceu controlar-se e respirar fundo.
- Quer me contar quais os efeitos? – coloquei a pílula embaixo da língua e o vi estremecer. – Vamos, tente... – sabia que ele nunca falava disso com ninguém, mas por que não começar a tentar?
- O LSD faz ter alucinações... Dependendo do lugar em que você esteja, ele faz tudo parecer muito bizarro e assustador ou tudo muito divertido e excitante. – deu uma pequena pausa, mas continuou. – Parece que tudo está sendo distorcido e a pessoa começa a delirar. – ele fechou os olhos com força. – E por causa dessas ilusões, quem usa acha que pode ser o super-homem voando ou que pode andar pela água... – respirou mais uma vez. – E isso é muito ruim, entendeu? – encarou-me.
- E por que você na para? – a pergunta que eu queria fazer era ‘e por que você me ofereceu?’, mas achei que iria acabar com tudo.
- Por que... – ele fechou os olhos novamente. – Porque quando se fica muito tempo sem usar, o LSD causa um tipo de flashback e você sente os mesmos efeitos: alucinações, delírios, excitação, medo... E se você não usar a droga novamente, parece que você vai morrer. É horrível. – e antes que eu pudesse abrir a boca para perguntar mais alguma coisa, ele prosseguiu: - sim, eu tentei parar, mas não adiantou. Eu estava perdendo a sanidade! Isso é quase uma tortura. E a maconha tem alguns efeitos assim, é simplesmente... Horrível. – ele abriu os olhos e pareceu distante. Se eu perguntasse mais alguma coisa acho que estragaria o momento. Ele nunca tinha se aberto tanto para mim... Não precisava mais saber de nada.
A rua começou a parecer que estava distante, com as calçadas se desfazendo... Meu corpo parecia suar mais que o normal e meu coração estava acelerado. Uma euforia maior que a normal me dominou e então as coisas pareciam se mexer... Efeito das drogas, só podia ser. Tentei me concentrar em alguma coisa, mas tudo parecia estar mudando de posição... De forma... De cheiro. Respirei fundo até sentir um beijo no meu pescoço e mordidas seguidas. Sorri maliciosa e me virei para Thur, que também estava suando fora do normal. Seria um efeito colateral? Beijamo-nos com ferocidade e dei leves mordidas em seu lábio inferior, mesmo não tendo muita noção das imagens que apareciam.
- Me promete uma coisa? – ele perguntou com sua testa encostada à minha. 
- O que? – murmurei meio desnorteada.
- Que você nunca mais vai usar drogas. – beijou a ponta do meu nariz.
- Não. – ele me encarou e então voltei a beijá-lo. 
- Você é incrível. – sorri automaticamente com esse comentário.
Thur... – ele murmurou um ‘hmm’ e então prossegui. – Está tudo muito estranho... Estou vendo tudo borrado e estou muito empolgada com não sei o que. – ele me apertou a ele.
- Lembre-me de nunca mais te dar drogas. – bufei e ele riu, colocando meu rosto em seu peito e fazendo carinho no meu peito. – Isso vai demorar, então acho melhor eu ficar com você aqui. Até o efeito passar. – sorri. Esse efeito podia demorar eternamente...
END FLASHBACK

Minha cabeça parecia ter levado uma pancada e um escuro assombroso ocupava minha visão. Por que eu não conseguia abrir meus olhos? Todo o meu corpo parecia estar em um sono profundo e sem previsão para o término e mesmo assim ardia e queimava. Sentia-me extremamente fraca e sabia que estava assim por algum tempo. Eu estava deitada por tempo demais e ainda me sentia completamente fraca, sem vida... 
- E o senhor tem certeza disso? – escutei uma voz ao fundo. A mesma voz de antes; Thur. Ele estava ali... Eu só queria ter forças o suficiente para falar com ele, para falar que eu estava ali... Ou mesmo para entender alguma coisa. 
- Sim, senhor Aguiar. Ela já está assim por trinta e nove dias, o que é muito. Nada responde, nenhum aparelho funciona. – Eu estava dormindo por trinta e nove dias? Minha vontade de acordar superou tudo e assim que tentei fazer, senti meu corpo que ardia, triplicar a dor. Senti minha respiração falhar e meu coração palpitar fraco, quase parando de bater. Minha consciência pareceu ter se desligado e ligado novamente. Uma dor que me fazia querer gritar ou até mesmo me matar atacou-me naquele momento e nem tentar me matar eu podia – estava imóvel. Aquela dor era algo que já estava presente há tempos, deixando-me quase desfalecida. E naquele momento eu descobri que se eu tentasse mais uma vez abrir os olhos não os abriria mais. Não faria mais nada. As vozes que haviam sumido pareceram voltar: - Vamos transferi-la de sala. Ela vai ser encaminhada à UTI. – UTI? O que tinha acontecido? 
Meu cérebro pareceu estar parando de funcionar e mais uma vez escuridão.
Minha cabeça doía mais que o normal (da dor que eu já havia me acostumado), parecendo que alguém havia atingido em cheio um machucado bem profundo ali. Meu corpo continuava ardendo e minha respiração falha. 
Lu... – escutei a voz de Thur sussurrar. Ela parecia triste e cansada. Dessa vez parecia estar um pouco mais perto que das outras vezes. Apenas um pouco mais... – Você precisa acordar, Lu. Você precisa voltar... – ele sussurrava baixo e parecia estar a ponto de chorar. Droga. Eu não queria ter que fazer isso com ele, mas eu simplesmente não conseguia evitar. – Eu não queria causar isso... Eu não queria ser o culpado por isso, Lu! – ele estava chorando, eu podia sentir. O ar que eu não tinha pareceu me faltar mais. – Por favor, Lu, não faz isso comigo. Eu estava drogado... Eu... Você sabe como eu fico quando estou usando drogas! – ele pareceu gritar, mas aquilo saiu melhor aos meus ouvidos – não parecia mais um sussurro, como todas as vozes pareciam estar. – Eu... Eu não queria que você visse aquilo, eu não queria que você atravessasse aquela rua... Eu só estava com raiva. – O que ele tinha feito? Que diabo de rua era aquela? Do que ele estava falando?
E por um momento eu pareci me lembrar. Luzes, faróis... Festa. Eu parecia estar perdendo a consciência novamente.
- Eu não queria ter causado aquele acidente... – sua voz sumiu e a escuridão retornou.

FLASHBACK
Thur havia insistido o suficiente para que eu fosse àquela festa com ele, e lá estava eu. Mas onde ele estava?
As luzes da casa de Bryan pareciam estar ofuscando minha visão, de tão fortes que eram. Sua casa era enorme, com quadra de jogos e uma área de piscina e festas – que estava completamente decorada com coisas em néon. Todos bebiam e dançavam, pareciam se divertir. A música alta estava machucando meus ouvidos e meu humor estava acabando. Onde ele havia se metido?
- Hei, Lua... Está sozinha? – um viciado, amigo do Thur, me perguntou.
- Não. – respondi irônica.
- Não precisa dessa arrogância toda... Só estava perguntando. – sorri falsamente e ele se sentou ao meu lado. Música alta, amigo viciado do Thur e Thur não estar ali. Isso estava me tirando do sério.
- Você sabe onde o Thur está? 
- Ele disse que está chegando já... Disse que estava aqui perto. – suspirei aliviada e minha cabeça parecia explodir. Depois do dia que Thur me ofereceu aquela droga, surtos psicóticos estavam acontecendo e parecia que eu iria morrer. Precisava de mais droga. 
- Você... – disse calmamente e com certo receio. – Você tem LSD aí? – mordi meu lábio inferior e ele sorriu de lado.
- Você também? – ele gargalhou e lhe indiquei o dedo do meio. – Calma aí, gatinha... Não precisa de tanto! – ele gargalhou. Com certeza já estava meio chapado. – Tenho algumas aqui... – ele parecia meio pervertido. – O que eu ganho em troca?
- Um belo soco, se não me der uma agora. – sorri falsamente e então ele me entregou uma. – sorri verdadeiramente e então ele mordeu minha bochecha. Aquele garoto era maluco. Gargalhei, colocando a pílula debaixo da minha língua. Aquilo iria demorar muito. Peguei o copo que estava na mão do Lucca e o virei dentro da minha boca, sem me importar com o que era, e engolindo o LSD junto. – Uau. – ele riu e então gargalhamos. Eu precisava daquilo.
- Que porra é essa? – Thur apareceu, com os olhos vermelhos e um pouco alterado. Ele havia demorado porque estava se drogando... Já devia ter imaginado. 
- Nada, Thur. – disse sorrindo. Ele bufou.
- Vou ali dentro falar com o Bryan e espero que você esteja longe dela. – gargalhei sem saber o motivo e o Lucca me acompanhou. Thur nos encarou e por um momento vi fúria nos seus olhos. O que ele tinha? – Eu não acredito... – ele disse com certa fúria.
- No que? – questionei.
- Nada. Vou falar com o Bryan. – tentei segui-lo, mas ele me impediu. – Sozinho. – foi ríspido. O que tinha acontecido?

Fiquei por mais de uma hora esperando Thur voltar, mas nada. Os efeitos daquele alucinógeno estavam me deixando completamente desnorteada. O chão já não existia, muito menos as pessoas. O barulho da música havia sumido e certo pavor me dominou. Tinha pavor daquelas imagens que se formavam em minha visão... Tudo estava distorcido e apavorante. Decidi sair de lá antes que enlouquecesse e comecei a rir. Comecei a gargalhar. De repente rir parecia ser maravilhoso. Fui cambaleando para dentro do que parecia ser uma casa, que mais parecia um castelo mal-assombrado cheio de vampiros. 
Vampiros. Eu gostava de vampiros. 
Adentrei aquele lugar e procurei por Thur, mas não o encontrei. O chão parecia estar sumindo e eu estava levitando. Eu sabia voar. 
Voar era extremamente empolgante. Gargalhei. Eu estava voando!
Comecei a correr e voar com os braços abertos e via alguns alienígenas encarando-me. Lembrei-me vagamente de onde eu estava. Precisava encontrar Thur.
Vi um vampiro loiro e imaginei ser o Bryan. Tinha que ser ele... Gargalhei nervosa.
- Bryan? – perguntei com certo receio.
- Hei, Lu, você está linda! – Acertei! Não era nenhum demônio bebedor de sangue. 
- Você viu o Thur? – perguntei com a voz falha e leiga. Eu devia estar parecendo um monstro.
- Ele estava por ali... Mas acho que foi lá pra cima. – ele pareceu se lembrar de algo e fez cara de assustado. – Mas ele já deve estar descendo, espera aí. – tinha algo errado. Mesmo sob efeito das drogas eu sabia que tinha algo errado.
- Tem problema se eu for vê-lo? – perguntei. 
- Não, mas espera aqui... Te faço companhia. – tinha algo extremamente errado.
- Vou subindo. – disse gargalhando e voando novamente, mas um pouco mais concentrada. 
Encontrei vários cômodos naquela enorme casa e como não estava conseguindo associar nada, fui abrindo porta por porta. Casais transando... Vampiros praticando o ato sexual? Que loucura! O mundo dos vampiros era bem engraçado. Respirei fundo e continuei minha procura, sem tentar perder completamente a lógica. Foco, Lua, foco. Abri mais duas portas e fui xingada de todos os nomes existentes por atrapalhar os casais. 
Abri mais uma porta e meus olhos automaticamente marejaram. Podia estar drogada o quanto fosse, podia estar vendo vampiros em todos os lugares e podia estar completamente insana, mas aquele era Thur. Ou o vampiro dele, tanto faz. Choquei-me com a cena que vi, mas dessa vez abri a porta calmamente, então ele não teria percebido nada. Encarei-o com um cabelo loiro de farmácia, aos beijos e quase sem roupa. Que porra era aquela? 
Minha mente parecia estar a mil e eu queria agarrá-los e bater neles até que morressem. Mas eu não iria conseguir... Ele era bem mais forte que eu. Por que eu tinha que sofrer tanto? Por que eu era tão otária? Merda de vida! Aquele alucinógeno pareceu perder o efeito no mesmo instante e então eu gritei. Gritei o mais alto e raivoso que pude, fazendo os dois me encararem. Meu grito foi tão furioso que os fez se assustar. Eu queria jogá-lo de cima de um prédio e assistir sua morte. Eu queria fazê-lo sofrer, eu queria destruí-lo emocionalmente, como ele fazia comigo. Mas nada parecia ser o suficiente para Thur. Nada o abalava tanto... Mas se a culpa o abalasse? Se a culpa o abalasse a ponto de fazer vê-lo o quão idiota ele tinha sido? Eu poderia cometer a maior loucura da minha vida, mas o deixaria acabado. Deixá-lo-ia com o sentimento mais horrível de todos: culpa.
Vi-o se levantar para vir em minha direção e eu senti o chão sumir. Encarei-o ferozmente e cerrei os dentes.
Vir-me-ei e corri o mais rápido que pude. Desci as escadas com muita velocidade, quase tropeçando. Pude escutar seus passos apressados me seguindo, mas só queria ir pra casa. Só queria esquecer dessa noite. Queria que ele morresse por aquela noite. Um filho da puta, era isso o que ele era. Lágrimas grossas saíam dos meus olhos enquanto eu corria, e o sentia cada vez mais perto. Esbarrei em algumas pessoas que estavam dentro da casa e fui para a parte exterior, ainda correndo. A música alta me fez querer gritar e quebrar tudo, mas eu tinha que correr.
Lu! – escutei sua voz longe, gritando. Ignorei-a completamente. Queria que aquela voz sumisse com o dono dela. – Lua! – eu corri mais rápido. Esbarrava nas pessoas e já estava soluçando. – Porra,Lua! – ele parecia estar ganhando velocidade. Permiti-me olhar para trás e o vi sem camisa, correndo na minha direção e quase me alcançando. Ele levou um susto ao me encarar, a me ver completamente destruída. Era isso que ele tinha feito: destruído tudo.
- Suma! – gritei com toda força e corri mais forte. Fechei os olhos e corri mais rápido, ignorando para onde eu estava me dirigindo. Só queria fugir.
Lu, espera! Eu posso explicar, porra! – ele gritava, mas não queria ouvir. Corri mais ainda e já sentia minhas pernas cansadas. Estava me fodendo para quem estava nos encarando... Para o show que estava dando... Que se fodesse tudo! – Lua, olha pra...
Abri os olhos e encarei uma luz branca de dos faróis na minha frente. Em milésimos vi um filme na minha cabeça e não tinha como eu correr. Tudo era muito rápido. Apenas encarei Thur e sorri.
Escuridão.
END FLASHBACK

Arthur’s P.O.V.


Eu estava fodido. Literalmente. O que eu tinha feito? Porra! Eu só sabia acabar com tudo de bom que eu tinha conquistado. Já se passava um mês e meio que eu não saía daquela porra de hospital e nenhum sinal de vida da Lua. Por que eu fui me apaixonar? E o pior de tudo: por que eu me apaixonei e traí isso? Eu já sei; porque sou um otário. Sempre fui e sempre serei.
Acabei com a minha vida e depois com a dela. Mas estava tudo bem quando era só com a minha, porque a responsabilidade era só minha, mas quando eu a envolvi nisso, tudo era diferente. Que diabos eu estava pensando? Eu estava com a barba mal-feita, um semblante tenebroso e o cabelo bagunçado. Eu estava acabado, mas não mais que Lua. Se ela sobrevivesse – coisa que iaacontecer -, ficaria com sequelas eternamente. Tanto físicas quanto emocionais. 
- Senhor Aguiar, pode visitá-la. – a enfermeira me alertou e eu assenti. 
- Alguma mudança? – a enfermeira negou calmamente. Por que ela podia ser tão calma? Da última vez, quase a parti em duas. A Lua não acordava e ninguém fazia porra nenhuma! E eu era o culpado. Somente eu. – Obrigado. Irei vê-la. – sorri forçado. 

Cheguei ao quarto e a vi como sempre: de olhos fechados e com marcas por todo o corpo. Seu rosto tinha cicatrizes, assim como seus braços e suas pernas. E o mais triste de tudo isso: ela talvez não pudesse andar. Se ela não andasse, me sentiria culpado pro resto da minha vida, coisa que já estava constante. 
Encarei a superfície branca e linda de seu rosto – mesmo danificado pelo acidente – e uma lágrima saiu dos meus olhos, caindo em seu rosto. Cravei os dentes uns contra os outros e limpei com meu polegar, calmamente, a gota de lágrima que havia caído. Eu sentia falta daquele sorriso forçado, daquele ar de superioridade e daquela curiosidade. A espontaneidade era algo que também sentia muita falta. Que porra! Por que ela ainda não tinha dado sinal de vida? Aquela merda de coma já havia passado dos limites. Eu não permitiria que nada acontecesse a ela, nada. 
Lua! – gritei exasperado. Por que ela não acordava? Eu precisava daquela garota e queria contar isso a ela! – Porra, Lua! Eu não aguento mais isso. Será que você não vê o quanto eu gosto de você? O quanto eu sou doido por você? – suspirei. Eu estava falando com o vento! Mas eu iria continuar. – Você não sabe o quanto é doloroso para mim te ver aí, então, por favor, dê um sinal de vida. – fechei os olhos com força. – Tudo o que a gente viveu... Eu gosto daquilo. Eu quero aquilo novamente, mas pra isso eu preciso de você. Você iria se impressionar com o que eu vou dizer. – ri sem humor. – Eu não fumo desde a porra daquela festa, não faço nada! Só fico aqui com você. Você sabe o quão doido eu estou? Mas se for preciso, eu paro de usar drogas, paro tudo, mas que você fique bem! Pode ficar longe de mim, pode me odiar, mas, por favor, Lua, acorde! – gritei essas palavras, derrotado. Lágrimas desciam e meu choro havia ficado intenso. – Por favor... – sussurrei e segurei em sua mão. Nada acontecia. Fiquei ali por não sei quando tempo e queria gritar.
Lua, por favor... – fechei os olhos com força. – Se você estiver me ouvindo, por favor, dá algum sinal de que você está aí. Dê algum sinal de que você me perdoa, por favor. Só um sinal. Eu preciso do seu perdão. – Apertei sua mão com força, mas nada saía. – Lu... Eu preciso do seu perdão por que... – falhei ao terminar a frase. Fechei os olhos com força e encarei aquele rosto. Encostei meus lábios aos seus e sorri. Aqueles lábios sempre convidativos. Deixei-o ali por alguns minutos e suspirei. Nada. – Lua... – E então uma coisa me fez parecer perder o chão. Senti sua mão apertar brevemente a minha. Arregalei meus olhos. – Lua? Lua? Você está aí? – chamei a enfermeira pelo botão que se encontrava perto da cama e ela veio depressa. Contei-lhe tudo e ela pareceu analisar alguns dados, indo chamar o doutor em seguida. – Lua, eu não estou maluco! Eu sei que você estava aí e sei o que você fez. Você... Por favor, tenha forças! – cheguei bem próximo e o doutor havia chegado. Um aparelho ao meu lado começou a apitar e me virei para vê-lo.
- Por Deus! – o médico gritou. Chame a equipe agora, Nancy. Agora! – ele gritava para a enfermeira. – Senhor Aguiar, peço que se retire. 
- O que está acontecendo? – gritei, sem mover um músculo. – Me diga! – falei mais alto. – Eu estou aqui há um mês e meio então ninguém vai me tirar daqui! Que barulho infernal é esse?
- O coração... Houve uma forte pulsação e agora está caindo... – esperei que ele continuasse. – Ele está parando. - quando aquelas palavras foram ditas, meu coração pareceu dar mil voltas. Uma equipe chegou correndo e eu estava me levantando, mas a mão de Lua me segurou com força. 
Lua! – gritei. – Aguente firme, você ficará bem. – os olhos dela não se abriam e ela parecia estar perdendo as forças. – Você está aí? Me responda! – gritei e o médico tentava me soltar, mas eu não iria sair dali. Pegaram equipamentos e começaram a uma série de coisas que não sabia o que era. – Eu te amo, porra! – gritei e então vi o que mais me fazia falta: seus olhos; tão profundos e meigos... Ela queria me dizer algo, aquele olhar estava com diferentes significados. Ela os abriu com tamanha força que quase os fez saltar. Seu peito inflou e ela se contorceu, soltando minha mão em seguida.
- Senhor Aguiar, peço que se retire! – o médico e sua equipe corriam, me afastando dela... Vi seu olhar se direcionar a mim e então um barulho se fez. Um barulho como aqueles de filme: um ‘pi’ contínuo. Eu sabia o que aquilo significava, mas não queria acreditar. Não consegui ouvir mais nada e nem ver mais ninguém, fecharam a porta na minha frente, antes que começarem a fazer massagens cardíacas e aquele choque no coração. 
Eu sabia que aquilo não daria em nada. Ela havia feito seu último esforço. Ela havia feito seu último esforço por mim.
Chorei alto e gritei em todo o hospital, mas ninguém parecia querer me interromper. Corri e me agachei em um canto longe de tudo, no jardim do hospital. Minha vida havia acabado, assim como a dela.
Fiquei horas chorando e resolvi ir a algum lugar... A qualquer lugar. Precisava de uma coisa: crack. Precisava de uma overdose. Precisava fugir...

FIM.

NUNCA, eu disse NUNCA mesmo eu chorei com uma fic, mas essa, GENTE tá escorrendo lágrimas dos meus olhos.
Minha mãe me perguntou o porque de'u estar chorando e eu disse que era por causa da fic, dai ela pediu pra ler mas não chorou e me chamou de sentimental kkk 
Beijos e COMENTEM


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