17 de jan. de 2013

{FIC} Falsa Lua-de-Mel


29º e 30º Capitulos


Provas!!!!


Atrás de uma pilha de trapos de limpeza, havia uma pequena toalha, manchada por um líquido marrom avermelhado, agora seco. Ambos olharam para o pequeno pano por um longo tempo.
— Que droga — disse Arthur finalmente.
— Parece sangue — Lua ouviu-se dizer.
Arthur não disse nada, e vestiu as luvas de borracha.
— Talvez Soh tenha se cortado enquanto picava legumes — sugeriu ela. — Então deve ter jogado a toalha embaixo da pia e acabou esquecendo. Ou ela pode ter derramado ketchup.
Arthurcontinuou em silêncio, e pegando a lanterna, enfiou a cabeça dentro do armário, iluminando a toalha e ao redor dela à procura de mais pistas.
— Algo muito sério aconteceu aqui — concluiu ele meneando com a cabeça, uma expressão grave no rosto.

Desligou a lanterna e fechou a porta do armário. Levantou-se, retirou as luvas e pegou a mão de Lua.
— O que vamos fazer agora? — ela perguntou, ansiosa.
— Tirar toda aquela neve, e rápido.
Eles encontraram a toalha! Não deviam tê-la encontrado! E agora? Se ao menos parasse de nevar, se ao menos eles fossem embora daqui! Se ao menos...

Para Lua, sair da casa teve o mesmo efeito que um soco no peito, pois seus pulmões não estavam acostumados com a altitude, muito menos com aquele frio. A Sierra, que se estendia por quilômetros de florestas naturais, interrompia-se abruptamente num vale cuja visão era de tirar o fôlego. No entanto, ao estar ali na pequena varanda de entrada, viu a extensão do problema.

Ficou parada, envolta num agasalho enorme que pegara emprestado, talvez de algum hóspede antigo que o deixara para trás, um par de meias emprestadas por Chay e um boné de Micael. Encolhida dentro do traje, respirava com dificuldade, vendo a respiração se cristalizar à sua frente, e tentava digerir o que tinha diante de seus olhos: uma paisagem branca até onde os olhos alcançavam.

Os três metros de neve que haviam caído, estabeleceram um novo recorde na região: os aeroportos e o comércio haviam sido fechados, as estradas estavam bloqueadas, as aulas nas escolas estavam suspensas, e as linhas de telefone e energia tinham caído.
Isolados da civilização como estavam, a situação até era considerada como normal e o povo dali costumava se preparar fazendo estoques de água, comida e combustível para seus removedores de neve, tornando-se assim uma colônia independente.

Dentro da casa, embora fosse às vezes igualmente frio, estivera de certa forma em um casulo. Podia ver a neve, mas estava protegida pelas janelas e pela lareira que aquecia o ambiente. Mas graças à falta de eletricidade, não havia nenhum aroma de comida sendo feita, nada além de um vazio que fazia com que a residência parecesse inabitada.

Tudo tinha um novo significado nestes últimos dias, o que não seria um problema, não fosse por dois fatos. Primeiro, as pessoas daquela casa não estavam preparadas como deveriam. Segundo, e talvez o mais importante, havia um cadáver na casa e isso mudava tudo. A casa não era mais bela e aconchegante e sair dali, com ou sem a "tempestade do século", tornara-se prioridade.
De onde estava, só se viam as gigantescas montanhas que os cercavam por todos os lados. Os flocos de neve caíam em silêncio, acumulando-se ao lado da casa, no abrigo ao fundo do terreno e na garagem, de tal forma que a construção de três alas aparentava ter somente uma.

Havia cerca de um metro de neve sobre os telhados, que caía com o próprio peso de vez em quando, e deixava montes enormes de gelo ao longo das calhas, alguns com mais de dois metros de altura. Isso tornava impossível de se chegar ao abrigo ou à garagem pelo lado de fora até que fosse retirada. Duas fiações vindas de postes ao longo da estrada, também estavam pesadas com o gelo acumulado. As árvores estavam totalmente cobertas pela neve e quatro dos pinheiros no jardim da frente haviam caído ou tombado devido ao peso do gelo. As janelas no lado norte do abrigo tinham se quebrado também.
E, mesmo assim, a nevasca não dava trégua.

Arthur, Micael e Chay cavavam a neve, enquanto Lua, Sophie e Mel assistiam. Não só porque havia apenas três pás, mas também porque era um trabalho muito pesado.
— Olhe só o céu — comentou Sophie.
Lua deu um passo para trás e levantou o rosto, admirando os flocos frios que caíam em sua pele. Parecia que um travesseiro gigante tinha explodido, fazendo com que seus flocos de algodão caíssem suavemente. Algodão que formava montes no chão que não eram tão delicados assim, e que tinham que ser removidos.
— Eu vou entrar, essa neve está borrando minha maquiagem — anunciou Mel.
— Eu também — concordou Sophie.

Lua ficou onde estava. A temperatura fria penetrava pela roupa que usava, mas os rapazes estavam cobertos de suor. Micael vestia um abrigo preto de moletom que estava quase todo coberto de neve. Chay vestia o seu macacão de Abominável Homem das Neves e não era tão eficiente como Micael, retirando menos neve que os outros e também levando o dobro de tempo, calando imprecações em seu sotaque carregado, todo o tempo.

Arthur se movia com uma precisão calculada que fazia tudo parecer muito fácil. Vestia o mesmo abrigo de moletom que tinha dado a ela na primeira noite, também coberto de neve, mas ele parecia não notar enquanto trabalhava.

Lua divagou por alguns instantes. Como seria vê-lo fora daquele ambiente, no mundo real? Antes que encontrasse a resposta, Sophie voltou com garrafas de água para eles.
Sentindo o olhar de Arthur sobre si enquanto bebia água, pegou a pá que ele encostara na parede e levantou-a. Devia pesar uns cinco quilos. Tentou cavar e colocar a neve retirada num balde, mas não conseguiu. Tentou novamente, desta vez com metade da neve de antes e deu certo. Na terceira tentativa, já estava suando.

— Pode deixar que eu continuo — disse Arthur.
— Eu sinto muito. Gostaria que não tivesse que fazer isso.
— Está se sentindo culpada?
— Muito — ela respondeu, fazendo com que um brilho malicioso aparecesse nos olhos dele.
— O suficiente para me compensar mais tarde?
Ela teve que rir mediante a provocação, mas quando ele se virou para voltar ao trabalho, sentiu seu sorriso desvanecer. Percebeu que queria recompensá-lo. Queria fazer isso e muito mais.

Continua.. 

Creditos: UR

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