3 de jan. de 2013

{FIC} Falsa Lua-de-Mel


2º Capítulo de 'Falsa Lua-de-Mel'
Alguém!!!! 


Parar para conversar era uma péssima idéia, logo, Lua continuou sua fuga. O único problema era que não tinha para aonde ir.
Segurando o vibrador que a hóspede misteriosa deixara cair, Arthur Aguiar ficou ali parado morrendo de frio, a água ainda escorrendo por seu corpo nu e molhando o chão na porta do banheiro. Como se não bastasse ter largado seu emprego, para espanto de todos, e não fazer sexo havia algum tempo, agora ele fizera com que uma mulher saísse correndo e gritando feito uma louca.

Não tinha a menor idéia de quem era ela, mas precisava descobrir. Ainda podia ouvi-la descendo as escadas, o som dos saltos da bota ecoando pela casa. Quem seria ela e o que estava fazendo em sua casa?
A bem da verdade, aquela casa belíssima nem era sua, seu irmão Chay a alugara por uma semana, para que ele pudesse pôr a cabeça no lugar.

Permaneceria ali por sete dias, no melhor estilo, e não pretendia fazer absolutamente nada. Quem sabe teria sorte em encontrar alguma instrutora de esqui para aquecê-lo à noite. Ficaria bem, contanto que não se lembrasse do emprego que quase o levara a um esgotamento nervoso. A única coisa que desejava era se recuperar; depois decidiria o que fazer de sua vida. Sem pressa.

Viera de San Francisco em sua picape, que a esta altura devia estar enterrada na neve. O trajeto tinha sido horrível, e a julgar pelo jeito que a neve estava caindo agora, achava difícil sair dali, mesmo que quisesse. Os funcionários que deveriam tê-lo recepcionado haviam desaparecido, e a casa parecia uma geladeira de tão fria. Decidiu que tomaria um banho quente, e em seguida acenderia todas as lareiras que encontrasse pelo caminho.

Mas em vez disso, fora interrompido por uma mulher que estava a observá-lo enquanto se ensaboava. Tinha esperanças de que fosse uma das funcionárias do hotel, e que talvez pudesse lhe preparar algo para comer, pois estava faminto.

Enquanto enrolava uma toalha nos quadris e entrava no quarto, as luzes começaram a falhar. Nesse instante ouviu um baque e um grito abafado no andar de baixo, como se alguém tivesse caído. Largou a toalha, vestiu o jeans rapidamente, e correu para o corredor, descalço e sem ao menos colocar a camisa. Ali nas montanhas, a noite caía num piscar de olhos. E com a forte nevasca, as três clarabóias o as enormes janelas não ajudavam em nada a trazer luz ao ambiente.

— Olá! — chamou, sem obter resposta. Nada à sua volta lembrava a casa acolhedora em que chegara durante o dia. Mas tinha certeza de que não estava sozinho.
No momento em que colocou a mão no corrimão as luzes se apagaram por completo.
— Ótimo! — ironizou. Agora além de molhado, com fome, e com frio, estava também no escuro.
— Calma, não entre em pânico — murmurava Lua — Você é forte como uma rocha!

Descera as escadas praticamente voando, agradecida pela pouca luz. Tinha horror ao escuro. Perguntou-se onde estaria o bonitão sem roupa. Com certeza procurando por ela. Só de pensar nisso, tropeçou, caindo de cara no chão encerado. Nesse instante as luzes se apagaram e, para seu terror, ouviu passos vindos do andar de cima.

Levantou-se com dificuldade, pois não enxergava nada, a não ser aquela escuridão absurda que lhe dava arrepios. Não tinha mais noivo, estava numa casa sem eletricidade e com um estranho nu. Resumindo, estava em sérios apuros.

Lua se orgulhava de ser urbana. Independente, dificilmente se sentia intimidada ou amedrontada. Poderia encarar qualquer situação, exceto aquele lugar, assustador e escuro, onde o desconhecido parecia estar à espreita. E, claro, havia aquele homem maravilhoso com aquela voz grave e sexy em seu chuveiro. Talvez fosse normal naquela região encontrar homens como ele. Devia ser uma forma de boas-vindas. Ou talvez estivesse vendo alucinações depois do dia desastroso que tivera.

Enfiou a mão no bolso da calça e respirou aliviada ao sentir seu telefone celular. Tirou-o do bolso com cuidado e abriu-o; o pouco de luz que o mostrador emitia, dava-lhe certo conforto. Entretanto, não havia sinal de recepção. Chacoalhou-o, numa tentativa inútil de melhorar o sinal, mas de nada adiantou.
Céus, não devia ter saído de sua cama naquela manhã, colocado aquele vestido branco rendado que amara tanto e ido à igreja para se casar, só porque achava a idéia divertida e excitante. Queria parar de se entregar cada vez que ouvisse um '"eu te amo", quando na verdade o que um homem queria mesmo dizer era "me ame, mas lave a minha roupa enquanto isso".

Estremeceu de novo. As roupas molhadas estavam tão coladas em sua pele que deviam estar fumegando, pois mesmo estando congelada, estava suando de tanto medo. Foi então que ouviu um som no escuro. Um pequeno ruído no chão, que poderia muito bem ser um rato, um simples ranger da madeira ou até... um passo?

Preferiu não esperar para ver o que era. Num impulso, lançou-se em direção à porta de entrada, e escancarou-a. Neve e vento gelado a receberam, batendo em seu rosto e penetrando em sua roupa. Para piorar, o céu estava negro, nenhuma luz ou estrelas, nada com o que pudesse se guiar. Impulsionada pelo medo, respirou fundo, deu um passo à frente... e afundou na neve até o joelho.

Decidindo entre afundar ainda mais na neve e encarar aquela casa escura e assustadora, deu um passo para trás e foi açoitada outra vez pelo vento, caindo sentada na soleira da porta. Levantou-se rapidamente, fechou a porta lutando contra o vento e encostou-se nela. Mal teve tempo de se readaptar a falta de luz dentro da casa, pois uma voz baixa soou na escuridão:
— Olá!

Aquela voz não se parecia em nada com a voz do bonitão. Mordendo o lábio para manter-se quieta, caminhou na ponta dos pés em direção à mesa da recepção. Com certeza haveria um telefone ali. Encontrou-o, e quando levou o fone ao ouvido, pensando em quem poderia chamar; percebeu... não havia sinal de linha. Não, isso não estava acontecendo, isso não "podia" estar acontecendo.

Ouviu um clique, e depois um pequeno facho de luz apareceu, iluminando um rosto, flutuando no ar. Lua pôs a mão sobre a boca e suprimiu um grito, pressionando-se na parede como se pudesse atravessá-la e desaparecer dentro dela. Mas o que tinha pensado ser uma cabeça flutuante era na verdade um homem segurando uma lanterna abaixo do rosto. Não era o bonitão. Tinha a mesma altura, porém era mais forte, e aparentava ter uns vinte seis anos.

Vestia um abrigo de moletom com capuz por cima do boné de baseball, enterrado de tal forma em sua cabeça, que somente uma pequena parte do rosto ficava à mostra. O pouco que conseguia ver ficava exagerado pela luz forte da lanterna, dando ao rapaz um certo ar de Frankenstein.

— Está tudo bem — disse ele. — A linha telefônica cai a toda hora.
— E a eletricidade? — perguntou Lua como se perguntasse pelo horário do café da manhã. Estava tentando afugentar o pânico que a assolava, mas ao mesmo tempo, queria mais informações.
— Pois é, essa é nova — admitiu o rapaz, encolhendo os ombros, como se dissesse que não fazia a menor idéia.
— E você é o... gerente? — indagou ela, esperando que a resposta fosse "sim" em vez de "não, eu vou matar você!"
— Não, o gerente está... temporariamente indisponível. Quando o rapaz baixou a lanterna e com ela o capuz, ela teve que admitir que o rapaz não tinha nada de Frankenstein. Tinha a, pele morena, olhos negros e uma cicatriz ao longo do maxilar.
— Se você não é o gerente, quem é então?

Ele não respondeu e deu-lhe as costas, movendo a lanterna pelo vasto cômodo que naquele momento mais lembrava uma caverna. Encontrou a lareira e caminhou em direção a ela.
- Vou acender o fogo – anunciou – Você deveria tirar essas roupas molhadas.
Lua já teria tirado as roupas geladas, não fosse pelo fato de que não tinha o que vestir: as duas peças de lingerie em sua frasqueira não serviam para aquecer nem um mosquito.

- Você vai me dizer quem é, ou não vai? – perguntou novamente, já ficando com raiva.
Ouviu um estalo, e depois um facho de luz brilhou no escuro, enquanto ele segurava um fósforo e o depositava dentro da imensa lareira. O brilho do fogo que se acendeu iluminou-o por inteiro.
- Meu nome é Micael e sou o mordomo – respondeu finalmente, arregaçando as mangas de seu abrigo, revelando tatuagens nos dois braços.
- E onde estava quando cheguei? – continuou Lua, tentando sem sucesso, controlar o tremor do corpo – Há alguém usando minha suíte!
- Ah, sinto muito por isso. Com certeza houve alguma confusão com as reservas. Nada para se preocupar – desculpo-se. Vendo que ela continuava na soleira, congelando de frio, sugeriu: - Você não quer chegar perto do fogo?

Fogo. O corpo de Lua ansiava por um pouco de calor, mas ainda havia o problema do bonitão sem roupa. Por mais que não quisesse estar sozinha naquela mansão dos horrores, também não gostava da idéia de estar lá com dois homens estranhos. Por outro lado, se qualquer um deles fosse atacá-la, seria melhor que estivesse aquecida, pois assim poderia se defender. Porém, antes que pudesse se mexer ouviu o inconfundível com de passos descendo as escadas. Inclinou a cabeça, mas no escuro não conseguiu ver quem era.  


Continua..

Creditos: UR

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