10 de abr. de 2013

Here Comes The Storm


Capítulo 6



Já fazia três semanas desde o acidente do pai do Arthur. Ele estava visivelmente melhor e não acho que isso foi só pelo fato de ele ter conseguido o que sempre quis: Lua vinte e cinco horas por dia, só para ele. A mãe dele continuava cabisbaixa e, toda vez que eu ia lá, tentava dar uma força. Sentei-me entre as pernas de Chay, embaixo de uma árvore grande onde outros estudantes estavam também, e vi de longe Arthur chegar ao colégio, segurando uma mão de Lua. Ele avistou Chay e deu um aceno. Sentou-se em um banco com uma perna de cada lado e esperou que Lua sentasse de lado para ele, para apoiar a testa no ombro dela. Admito que não apoio tudo o que o Arthur faz, mas vê-lo daquela forma e sem nem mexer com ninguém estava me deixando meio... Sei lá, mas fazia com que eu me sentisse incompleta. Chay se mexeu e fechei os olhos, respirando fundo. O sinal tocou e todos nos levantamos para irmos para as salas e ter aulas chatas até a uma da tarde.
- Vai lá para casa? -
 Chay perguntou assim que Arthur se sentou na frente dele.
- Vou pichar uns muros hoje - ele respondeu tranqüilamente. Algo em mim se despertou e eu sorri involuntariamente. Isso significava que o
 Arthur estava voltando ao normal, o que era ótimo.
- A
 Lua não vai gostar disso.
- Que se dane! Eles mataram meu pai e não vou deixar isso assim -
 Chay, como a voz da experiência e dos ouvidos de fofocas, me disse que uns caras bateram na lateral direita do carro do pai doArthur. Desde que o mesmo descobriu, vinha dizendo que ia pichar a casa dos caras que, não sei como, ele conseguiu descobrir onde era.
-
 Arthur, isso não vai fazer com que eles se sintam culpados ou paguem pelo mau que estão fazendo para a sua família. Tente entender - Chay disse calmo e eu queria bater nele. Se ele tentasse mais uma vez dar algum conselho desse tipo ao Arthur, eu ia me esconder de medo da fera que ia sair por ali.
- Eu não quero saber - assim, encerrou o assunto, afundando a cabeça na mochila.

Saímos (finalmente) da aula e fomos para o portão do colégio. No meio do fluxo, acabei perdendo
 Arthur do campo de visão. Chay tinha ido avisar à Lua do incidente na aula e provavelmente já estava lá embaixo. Senti uma mão na minha nuca e me virei, vendo um menino alto e forte me olhando maliciosamente. Segundos depois, pude ver que a mão não estava mais lá e nem o dono da mesma. Olhei para o lado e vi Arthur apertando a mão. Olhei para baixo e vi o menino caído. Arthur me puxou pelo braço, enquanto o resto do pessoal parava para olhar o pobre menino caído no chão, no meio do corredor.
-
 Chay não ia gostar se visse isso - ele falou sério e continuei calada - Você devia fazer algum tipo de luta como esporte. Não sabe se cuidar - EI, quem disse que não? Ok, talvez o fato de que eu tinha o Chay ao meu lado quando eu quisesse houvesse me acostumado muito mau... Mas isso não significava que não sabia me cuidar. Ou talvez aquela dependência significasse... Tanto faz.
Chegamos perto de
 Chay e Lua e Arthur sorriu, abraçando-a. Acho fofo ele demonstrar que gosta de alguém. Pelo menos de uma pessoa ele tem que gostar, né? Acabamos indo todos para casa dele.Lua fez com que ele desistisse da idéia da pichar a casa dos caras. Com a irmã na escola e a mãe no trabalho, Arthur ficou um pouco mais tranqüilo.
– Fique sabendo que não é por que me fez vir para casa que eu não vou lá ainda, ok? -
 Lua riu e se sentou no colo dele.
- Fique você sabendo que um pé metido perto da casa deles e nosso namoro já era -
 Arthur ficou ereto e a olhou sério.
- Quero comer - quando ele fugia do assunto, é porque estava com medo. Queria ter esse poder sobre
 Chay.

A mãe dele era médica, então fazia plantão e nunca tinha hora para chegar ou sair. A irmã vivia na escola. Logo, ele ficava sozinho quase sempre e, depois da morte do pai, a situação só foi para pior.Lua passava o dia todo com ele. Passava na casa dele antes da escola, passava todos os intervalos e todo o tempo que tinha possível na escola com ele, saía da escola, iam para a casa dele e ela só ia para casa às onze, quando já tinha que dormir para acordar no dia seguinte e fazer o mesmo.
- Eu vou ali à rua comprar alguma coisa para comer - ele se levantou da cama, onde estava deitado, e vestiu um casaco.
- Ei, não. Tem comida aqui.
- Mas não quero a comida daqui - quando ele queria, era bastante teimoso - Não vou demorar.
-
 Arthur, você não vai. Venha, sente-se aqui que vou tentar ajudá-lo no dever de casa. Chay me disse que vocês têm alguns para amanhã.
-
 Lua, é sério. Eu preciso sair - ela aw levantou junto - Preciso ficar sozinho.

Fazia cerca de duas horas que ele havia saído e não apareceu mais.
 Lua estava começando a ficar nervosa. Ninguém atendia no celular dele. Chay e muito menos eu conseguimos ter sorte, mas continuamos ligando.
Por volta de três horas de saída, eu estava no telefone com ela, tentando distraí-la, quando ela disse um simples 'tchau' e desligou.
 Arthur apareceu na sala, com os olhos inchados e vermelhos.
- Eu fumei maconha - ele continuou parado na porta da sala. Ela balançou a cabeça e suspirou.
- Apenas vá tomar um banho - ele obedeceu e logo apareceu na sala de novo. Sentou-se ao lado dela e a abraçou, começando a chorar.
- Ele se foi, de verdade.
- Você é forte. Vai ficar tudo bem - ela sorriu e ele deu um selinho nela. Ela ligou a TV e ficaram vendo alguns desenhos bobos - Você precisa fazer seus deveres,
 Arthur. Eu já fiz os meus.
- Pare de pegar no meu pé. Estou deprimido.
- Isso não é desculpa para não fazer seus deveres. Ande. Levante essa bunda daí e vá fazer o dever.



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